Há alguns dias participamos no 11º Simpósio Nacional EGFR (recetor do fator de crescimento epidérmico), que decorreu em Cascais. Foi um dia em que explorámos os múltiplos benefícios da biópsia líquida no diagnóstico e acompanhamento do cancro colorectal. Esta técnica analisa o ADN e outros componentes tumorais presentes no sangue em que as mutações genéticas podem ser detetadas.
Em comparação com a biópsia do tecido tumoral (biópsia sólida), é uma ação menos invasiva para o doente e mais rápida na obtenção dos resultados, com uma fiabilidade muito similar. Além disso, permite-nos monitorizar a doença e antecipar a sua evolução para adaptar o tratamento às necessidades do doente de forma personalizada.
A extração de sangue da área afetada oferece novas formas de obter amostras de tumores, algo que nem sempre é fácil. Desta forma, podemos realizar um acompanhamento muito mais exaustivo da sua evolução e da sua resposta aos tratamentos sem reduzir a qualidade de vida do doente.
É mais uma ferramenta da chamada oncologia de precisão, com a qual se tenta encontrar um tratamento-alvo, identificando quais as mutações que originaram o cancro, seja de que tipo for. Durante a jornada de Cascais analisamos vários casos concretos de tumores coloreais, contudo a biópsia líquida pode ser aplicada noutros tipos de tumores, como o do pulmão ou o da mama. De facto, temos consciência de que independentemente de os tumores de terem o mesmo nome não significa que sejam iguais. Estes podem ser causados por diferentes mutações ou alterações genéticas.
A nível internacional já é clara a sua grande utilidade: uma recente modificação das diretrizes da FDA, a agência do medicamento dos EUA, reconheceu a biópsia líquida como a primeira ferramenta de diagnóstico para o cancro do pulmão de células não pequenas.
O ideal seria que esses processos fossem estabelecidos dentro da rotina da prática clínica, ampliando o acesso dos doentes aos tratamentos mais adequados, evitar recaídas, tornar a sua recuperação mais efetiva e que os números tanto para hospitalizações quanto para mortalidade fossem caindo pouco a pouco. No entanto, ainda temos muito a investigar e a desenvolver neste campo.
Em qualquer caso, como especialistas, sabemos que a oncologia de precisão é o que marcará o nosso futuro mais próximo: isso dar-nos-á informações concretas sobre a raiz de um tumor. Isso permitir-nos-á selecionar os tratamentos mais específicos e personalizados para cada doente, especialmente para aqueles em que as primeiras terapias padrão não funcionaram; e permitir-nos-á também descartar aqueles tratamentos que não são eficazes, com a consequente economia de tempo, custos e efeitos secundários.
Jesús García-Foncillas
Oncologista
Coordenador científico da OncoDNA em Espanha e Portugal
In “Saúde Online”