Que a adolescência é uma fase difícil para os pais e os filhos já todos sabemos. Ao longo do meu percurso profissional ligado à área dos comportamentos aditivos e das dependências deparei-me muitas vezes com alguns pais a se questionar do porquê dos filhos não os ouvir.
Expressões como: “já não consigo controlar o meu filho”; “falo com ele mas parece que não me ouve”; “o meu filho é um rebelde”; ou “já não tenho mão no meu filho”, são muito comuns. Mas será que isto significa que os jovens são rebeldes ou que é necessário impor mais limites?
É importante pensarmos que esta noção de limites deverá acompanhar o jovem desde a infância. Se a criança desde pequena não for contrariada com o “não”, claro está, de forma assertiva e convicta, na adolescência será muito mais difícil aceitar os limites, uma vez que nesta fase tudo se torna mais complexo. Não nos podemos esquecer que dar limites é dar responsabilidades, o que implica tornar os nossos filhos mais responsáveis.
Limitar também é tolerar frustrações. Limitar é prevenir no presente para que no futuro, uma dificuldade não se transforme num problema. Limitar é mostrar que todos temos direitos, mas também temos deveres. É, no fundo, preparar os nossos filhos para o exercício da cidadania.
Mas será que os nossos filhos gostam que lhes sejam impostos limites? Antes de mais devemos compreender que dar limites é um ato de amor. O que acontece muitas vezes é que para impor limites aos filhos, os pais precisam de saber lidar com a sua própria dificuldade em tolerar a frustração dos seus filhos. Ou seja, os pais pensam que a frustração pode interferir com a auto-estima e a autoconfiança dos seus filhos e culpam-se por isso. Na verdade, o que os pais não percebem é que saber lidar com as frustrações faz parte da aprendizagem para a vida.
Não se esqueça que o jovem também tem as suas “armas” para se defender. Desculpas, pequenas mentiras, omissões, promessas e ameaças podem fazer parte da sua estratégia para, de alguma forma ou de outra, contornar os limites impostos pelos pais.
Então o que deve fazer? Pensemos em três conceitos básicos: empatia, diálogo e limites. São estes três pilares fundamentais para uma boa relação com os seus filhos: empatia é pois a capacidade de compreender os sentimentos do outro, sendo importante saber ouvir, sem preconceitos, dando provas de compreensão do sentimento do outro; diálogo significa que depois de ouvir a opinião ou os argumentos do seu filho colocar as suas questões, orientando e procurando soluções mas deixando, sempre que possível, a decisão final a cargo do jovem; e, por fim, limites ou seja ter empatia e diálogo não impede que, quando necessário, estabeleça limites, com base na sua autoridade e no dever de zelar pela segurança emocional e física do seu filho.
Ao adolescente, cabe desafiar. Aos pais, cabe educar!
TERESA FERNANDES
Socióloga IASAUDE, IP-RAM - Unidad Operacional de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências (UCAD)
In “JM-Madeira”