Risco de morrer é maior no Inverno. O número de óbitos não oscila muito, mas nos últimos anos aumentou ligeiramente.
“A mortalidade depende muito da população que está em risco de morrer e o principal factor de risco para morrer é a idade”, explica Baltazar Nunes, epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa). Mas há factores externos que podem influenciar este fenómeno, como a eventualidade de ocorrerem ondas de calor no Verão, e de o frio e as epidemias de gripe terem mais intensidade no Inverno, enfatiza.
Quanto aos excessos de mortalidade já contabilizados neste Inverno — em três semanas, cerca de mil óbitos acima do que seria de esperar para esta época do ano —, Baltazar Nunes lembra que as temperaturas estiveram muito baixas na última semana de 2017 e que o frio e a epidemia de gripe estão associados a aumentos da mortalidade, principalmente na população mais fragilizada, devido à multiplicação de infecções respiratórias e à descompensação de doenças crónicas.
Mas "ainda é demasiado cedo" para se perceber a magnitude do efeito do frio e da gripe na mortalidade neste Inverno, frisa. Num passado recente, houve Invernos mais complicados: o de 2014/2015, em que o Insa estimou que o frio e a gripe tenham contribuído para 5591 mortes acima do esperado; e, no Inverno de 2016/2017, voltou a registar-se um excesso de mortalidade assinalável (4467 óbitos). Baltazar Nunes lembra, mesmo assim, que ainda houve Invernos piores, como o de 1998/1999, em que o excesso de mortalidade ultrapassou os oito mil óbitos.
O risco de morrer é maior no Inverno. "As temperaturas muito baixas estão associadas a um aumento da mortalidade principalmente na população fragilizada e o frio e a humidade reduzida costumam também estar associados ao início da epidemia de gripe porque estas condições aumentam a sobrevivência dos vírus", acrescenta.
A agravar o cenário, a população portuguesa tem vindo a envelhecer, o número de pessoas muito idosas (85 ou mais anos) é crescente e é elevada a prevalência de doenças crónicas. As condições de vida da população também entram nesta equação. "Quantas habitações não estão preparadas para as temperaturas extremas? Quantas casas em Portugal têm aquecimento central ou ar condicionado”, pergunta o epidemiologista. Recorda um estudo já com 12 anos que se tornou "um clássico" e que comprovou que "nos países do Sul da Europa a sazonalidade da mortalidade é mais acentuada", o que pode estar relacionado com as condições sócio-económicas e o estado de saúde da população.
No início deste mês, dados revelados pelo Eurostat indicam que, apesar o número de famílias portuguesas que não conseguem manter a casa aquecida ter diminuído nos últimos anos, o país ainda é um dos que apresentam uma das situações mais difíceis no contexto da União Europeia. Mais de um quinto (22,5%) das famílias queixam-se ainda de não conseguir manter a casa quente “de forma adequada”. Pior do que Portugal, só a Bulgária, a Lituânia, a Grécia e Chipre.
ALEXANDRA CAMPOS
In “Público”