ENTREVISTA

Há grandes diferenças entre os países europeus, diz Dominique L. Monnet.

 

 

É preciso olhar para os países que estão melhor e perceber o que fizeram para chegar a esta situação, afirma Dominique L. Monnet, responsável pelo Programa de Resistência Antimicrobiana e Infecções Associadas a Cuidados de Saúde do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês).

 

 

 

Os dados que o ECDC divulgou em Novembro indicam que há uma melhoria ou pelo menos estabilização do problema das resistências antimicrobianas e do consumo de antibióticos em muitos países europeus. Mas os responsáveis estão muito preocupados. Não estamos no bom caminho?

 

Estamos preocupados por várias razões, uma das quais passa pelo facto de haver grandes diferenças entre os vários países europeus e porque o uso de antibióticos de última linha está a aumentar nalguns. Sabe-se hoje, sem margem para dúvida, que, quanto mais um país usa antibióticos, mais aumentam as resistências e as infecções hospitalares.

 

No entanto, há coisas que estão a mudar. Deixámos de discutir as causas do problema, as pessoas perceberam que um dos factores mais determinantes, em conjunto com as medidas de higiene e prevenção, para controlar este problema, é o uso adequado dos antibióticos. Em segundo lugar, começaram a olhar para outros países e a perguntar: o que é que eles fizeram para melhorar a sua situação? Também está a mudar o nível de conhecimento da população em geral, ainda que devagar.

 

Os eurobarómetros sobre uso de antibióticos também dão resultados muito diferentes, com os países do Sul de novo a ficar bem pior do que os do Norte na fotografia.

 

Sim, ainda vai demorar muito tempo a mudar isto. Por isso insistimos com os Estados-membros para que invistam em campanhas activas para melhorar o conhecimento da população e dos profissionais de saúde. É preciso continuar a repetir que os antibióticos não funcionam em constipações e gripes e outras patologias provocadas por vírus. E é necessário insistir nas medidas preventivas nos hospitais, não só com os médicos que prescrevem os antibióticos, mas também com os enfermeiros que os administram e com os farmacêuticos que os dispensam.

 

Como é que países como Portugal, onde o uso de carbapenemos, apesar de estar a diminuir, ainda é o dobro da União Europeia, podem inverter esta situação? Devemos inspirar-nos nas experiências de outros países, como sugeriu?

 

Não posso dizer a Portugal o que Portugal deve fazer. Mas há de facto muito bons exemplos em vários países, de hospitais, de departamentos de hospitais e de médicos que conseguiram controlar surtos de bactérias resistentes a carbapenemos. Globalmente, repito que temos que ser mais prudentes com os antibióticos que usamos.

 

Outro problema que tem sido apontado é o da falta de condições estruturais dos hospitais que dispõem de poucos quartos para isolamento e nalguns casos ainda têm enfermarias com muitas camas, o que potencia a multiplicação das infecções. A situação também varia muito de país para país?

 

O ECDC está justamente neste momento a conduzir um inquérito que vai trazer muita informação sobre esta matéria, nomeadamente sobre o número de quartos individuais que os hospitais têm, para poder fazer comparações entre países. Esta informação vai ser divulgada no próximo ano. Também vamos rever as estimativas acerca do número de mortes que podem ser atribuídas a infecções e as incapacidades ajustadas aos anos de vida perdida.

 

É preciso continuar a repetir que os antibióticos não funcionam em constipações e gripes e outros patologias provocadas por vírus.

 

ALEXANDRA CAMPOS

 

In “Público