Legalizar o consumo de qualquer droga é a optar pelo facilitismo e colocar a nossa comunidade em perigo.

São cada vez mais aqueles que nos querem vender a ideia de que legalizar a canábis, quer para fins medicinais, quer recreativos, é a melhor estratégia para a sua prevenção, combate e redução de riscos. Nada mais falso e diria mesmo hipócrita. A evidência científica tem demonstrado que a canábis é uma substância psicoativa extremamente nociva para o ser humano e a sua legalização não é mais do que o abrir da porta para um vasto conjunto de consequências semelhantes às do tabaco e do álcool, as quais estão à vista de todos, onde podemos destacar os milhares de mortes anualmente, o inúmero de doenças associadas, a perda de produtividade, sinistralidade rodoviária, contrabando e a sua acessibilidade.

 

Os argumentos a favor da legalização da canábis são puramente políticos e economicistas, o resto são fait divers. A experiência de alguns estados americanos é disso um bom exemplo. As associações, os movimentos cívicos e a indústria criam grupos de pressão na opinião pública e nos políticos, vendendo a ideia de que tudo são rosas, nomeadamente a descida na prevalência do consumo, a diminuição do tráfico, mais e melhor controlo da qualidade do produto, entre outras pérolas, que mais não são do que estratégias de marketing e de lóbi. O conhecimento científico de repente fica esquecido e é posto de lado. Baseados nestas premissas milagreiras, os políticos dão o poder de decisão a uma opinião pública desinformada e pouco esclarecida nesta matéria e acontece a sua legalização. Dão vivas, cantam-se hosanas e, como por magia, o mundo a partir desse momento vai ser melhor. Nada mais enganador.

 

Nestes estados, ao contrário do que era esperado e prometido, o consumo está a aumentar — óbvio, quanto mais acessível é um produto maior vai ser o seu consumo, é legal, é seguro. O controlo do tráfico é outra falácia, senão vejamos: no estado de Washington, o governo preconizava um nível de THC (um dos principais princípios ativos da canábis com efeitos psicoativos) entre 3 a 6%, neste momento grande parte da canábis que é vendida neste estado tem concentrações superiores a 29% de THC, grande controlo da qualidade do produto, e acrescente-se a isto a baixa de preço. Este aumento de concentração de THC desencadeia um conjunto de problemas ao nível da saúde, dos quais podemos destacar o aumento de doenças mentais, algumas das quais crónicas e graves, como é o caso da esquizofrenia. Os problemas ligados à sinistralidade rodoviária são outro contexto a merecer a atenção, já que é cada vez mais frequente o aumento da prevalência de condutores e de acidentes, alguns dos quais mortais, com níveis de THC no sangue e/ou com outras substâncias psicoativas lícitas e ilícitas. Resumindo, os estados e/ou países cuja legalização foi promulgada encontraram o inferno em vez do céu prometido e só agora recorreram à ciência e aos profissionais para encontrarem respostas para minimizar o mal que está feito.

 

Mas a cereja no topo do bolo é a legalização da canábis para fins medicinais. De facto, a planta Cannabis sativa, através do seu princípio ativo canabidiol, tem propriedades terapêuticas (entre outras, a de antipsicótica), e com uma vantagem: este canabinóide não tem efeitos psicoativos. Perante este facto, é necessário legalizar o seu consumo ou seguir a política do medicamento, a qual é assegurada por agências governamentais do medicamento, através do estudo e desenvolvimento de moléculas para futuros fármacos eficientes e eficazes para o tratamento de patologias e posteriormente prescritas de acordo com protocolos clínicos? Parece-nos evidente que a segunda opção é a mais correta. Quantos fármacos existem do mercado provenientes de plantas e que o seu consumo (planta) é nefasto e perigoso?

 

A melhor forma de combater esta e outras drogas não é legalizando-as e, consequentemente, facilitando o seu acesso. Antes é investir numa estratégia (à semelhança do que tem sido feito na Madeira) que invista preferencialmente na prevenção, na dissuasão, dê respostas ao nível do tratamento, redução de riscos e minimização de danos e na criação e melhoramento do quadro legal vigente. Legalizar o consumo de qualquer droga é a optar pelo facilitismo, é ceder a lóbis e a políticas eleitoralistas e, acima de tudo, colocar a nossa comunidade em perigo.

 

A democracia não se pode resumir ao ir às urnas periodicamente e delegar nos nossos representantes eleitos os destinos do nosso país. É muito mais que isso! Temos o dever de sermos agentes ativos na responsabilidade social, na defesa dos nossos direitos, liberdades e garantias. E, neste caso, não podemos nem devemos ceder a movimentos e lóbis demagógicos, mercantilistas e politizados, como os que existem na República. É imperioso acreditar no conhecimento e saber científico de séculos, através do qual a nossa vida melhorou em termos de quantidade e de qualidade. Com efeito, é hora de nos juntarmos e lutarmos contra a legalização de uma substância psicoativa que nos traz e às nossas crianças e jovens inúmeros problemas de vária índole. O nosso mote deve ser contra a canábis, marchar, marchar! Temos a ciência do nosso lado!

 

Nélson Carvalho

 

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

 

In “Público