5 mil pessoas sofrem de Psoríase na Madeira, onde o estigma social continua a existir
Há quem viva uma vida inteira a usar manga comprida para esconder as lesões provocadas na pele pela psoríase. A verdade é que esta não é uma doença estética, não se cinge apenas a um problema que provoca a escamação da pele. A psoríase não tem cura, mas tem tratamento e, por isso, como forma de marcar o Dia Mundial da Psoríase, que ontem se assinalou, falamos desta doença que afecta cerca de 5 mil madeirenses.
Os números da Região acompanham a realidade mundial. Cerca de 2% da população tem psoríase, nas mais variadas formas, tal como explicou ao DIÁRIO a directora de Dermatologia do SESARAM, Anabela Faria. Entre aqueles que apresentam apenas algumas placas espalhadas pelo corpo, outros há que têm praticamente todo o corpo coberto.
Esse era o caso de José, chamemos-lhe assim. O madeirense de 35 anos chegou a ter o corpo praticamente todo coberto de placas escamosas, a denominada psoríase. Actualmente, após anos de diversos tratamentos, finalmente a medicação está a fazer efeito e já não se nota a doença.
A doença é hereditária, pelo que muitos dos que se deslocam a um dermatologista já conhecem a sua pretensão para desenvolver a doença. Com duas tias e um tio a sofrerem com a doença, José já desconfiava que aquelas manchas que lhe apareceram nos braços poderiam significar que tinha psoríase. “Não era uma coisa nova na família e como os meus familiares tinham, aconselharam-me a procurar um médico”, explica.
Entre os factores de pré-disposição para esta doença encontram-se ainda as infecções, a toma de determinados medicamentos e o stress. O consumo de tabaco e de álcool também aumentam a probabilidade de desenvolvimento da doença.
Os tratamentos para esta doença são adaptados a cada um dos pacientes, podendo começar nos cremes e pomadas, passando por tratamentos com recurso a radiação ultravioleta e terminando com os denominados tratamentos biológicos. “Estes são tratamentos com custos extremamente elevados, que podem ascender aos 150 mil euros por ano, por cada paciente”, explicou a dermatologista. Por isso, o acompanhamento médico é crucial, pois ajuda a diagnosticar e a tratar da melhor maneira.
A idade do paciente, o tipo de pele e de psoríase e outras patologias clínicas são factores determinantes para se traçar o plano de tratamento mais indicado para cada um. A exposição regrada ao sol é aconselhada, mas nem sempre é seguida pelos pacientes. “A vitamina D é algo que vem contribuir para melhorar a condição da pele, mas a verdade é que muitos pacientes têm vergonha de expor o seu corpo”, assume Anabela Faria.
Apesar de não ser uma doença contagiosa, o facto de esta estar exposta faz com que a sociedade crie um estigma em torno da mesma. As dificuldades no relacionamento em sociedade são muitas vezes reportadas. “Não vale a pena esconder-se. A solução passa por procurar ajuda médica, até porque os tratamentos são comparticipados”, explica a médica.
O aspecto da pele está na origem de alguns mitos em torno da doença. “Porque era visível, tinha dificuldade em encontrar trabalho porque as pessoas achavam que era contagioso”, conta José, que esteve internado por diversas vezes para fazer tratamentos mais intensivos quando a psoríase estava ‘no seu auge’.
Há cerca de dois anos iniciou o tratamento biológico e, desde então, desloca-se semanalmente ao hospital para receber a injecção tão esperada. “As manchas desapareceram e, entretanto, consegui arranjar emprego”, afirma. Apesar das boas notícias, tem que manter-se em vigilância atenta, até porque, uma simples ferida, uma infecção, pode ser potenciadora de mais uma ‘crise’ de psoríase.
A pele irritada e escamada é apenas uma “capa” para um problema que, a longo prazo, pode provocar problemas nas articulações e cardiovasculares. “Um dermatologista experiente é capaz de diagnosticar a doença apenas através da observação da pele, até porque existem factores desencadeantes que vêm corroborar o diagnóstico”, diz a directora de Dermatologia.
In “Diário de Notícias”