Cerca de cinco mil utentes vão participar no primeiro estudo que vai avaliar as causas da elevada prevalência da doença renal crónica em Portugal.
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Nefrologia, Portugal tem cerca de 12 mil pessoas a necessitar de diálise e todos os anos surgem perto de dois mil doentes a precisar destes tratamentos de substituição da função renal. Além disso, há cerca de seis mil doentes transplantados do rim. “Este estudo é pioneiro em Portugal e tenta dar resposta a uma questão que é colocada a nível nacional, pelo facto de termos uma prevalência muito elevada de insuficiência renal nos estádios mais graves”, afirmou à agência Lusa o presidente da Sociedade de Nefrologia, Aníbal Ferreira.
A doença renal atravessa cinco níveis de gravidade, de 1 a 5, com este último a equivaler a uma falência renal. Enquanto em vários países desenvolvidos com os quais Portugal se pode comparar a insuficiência renal tem uma prevalência de cerca de 6% no total, estima-se que entre os portugueses esses 6% digam respeito apenas aos doentes já em fases mais graves (fases 3 a 5 da doença).
Esta maior prevalência em Portugal trouxe a necessidade de “perceber epidemiologicamente quais as causas que a justificam”, embora Aníbal Ferreira recorde que há causas expectáveis, como a maior prevalência da diabetes e mais hipertensão, duas das principais razões que conduzem à doença renal crónica.
Mas existirão outros motivos, como “condições particulares de organização da sociedade em termos de apoio médico e de acesso às diálises e aos centros de saúde que justificam estes números tão elevados”, considera o presidente da Sociedade de Nefrologia.
Este estudo pretende assim avaliar cerca de cinco mil utentes de cem unidades de cuidados de saúde primários (centros de saúde) que sejam representativos da realidade nacional. Durante o estudo, que deve levar de seis a nove meses, vão ser recolhidos dados demográficos e dados clínicos baseados em análises laboratoriais de sangue e urina.
O nefrologista Aníbal Ferreira sublinha que este estudo “não é só de doentes” mas sim uma avaliação de prevalência em utentes, no qual o expectável é encontrar uma esmagadora maioria de pessoas sem qualquer grau de insuficiência renal.
O estudo resulta de uma colaboração entre a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, a Sociedade de Nefrologia, a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal e a Sociedade de Diabetologia, sendo apoiado por um laboratório farmacêutico.
In “Jornal Económico”