O que é importante, diz Pedro Teixeira, é que a prescrição de exercício para quem precisa e possa aceder a um serviço ou programa personalizado seja realizada por um profissional qualificado.
É sedentário? Não se espante se o seu médico de família começar em breve a perguntar-lhe se pratica algum desporto. Esta medida está em preparação há vários meses, mas tudo indica que nas próximas semanas os sistemas informáticos das unidades de saúde já estejam preparados para que os médicos de família, se assim o entenderem (a adesão é voluntária), possam começar a fazer perguntas sobre a actividade física dos doentes. E, em breve, terão condições para ir mais longe, avançando com um protocolo de aconselhamento breve, ou encaminhando os utentes para um serviço mais personalizado, explica Pedro Teixeira, o director do Programa Nacional para a Promoção da Actividade Física, da Direcção-Geral da Saúde.
No futuro, a ideia é poderem ser testadas e avaliadas, em agrupamentos de centros de saúde, consultas com profissionais preparados para prescrever exercício físico, com médicos de medicina desportiva, preferencialmente em colaboração próxima com os chamados fisiologistas do exercício, uma profissão ainda não integrada no Serviço Nacional de Saúde nem regulada em Portugal. Outros profissionais de saúde, como os fisioterapeutas, devem também poder colaborar.
Começar a fazer exercício na meia-idade? Vai sempre a tempo
Além dos centros de saúde, o que se pretende é que o aconselhamento para a actividade física e a prescrição de programas de exercício se torne uma realidade também em farmácias, para além de clínicas ou ginásios (onde já ocorre), ou mesmo no âmbito de programas da iniciativa de câmaras municipais ou clubes desportivos.
O que é importante, enfatiza Pedro Teixeira, é que a prescrição de exercício para quem precisa e possa aceder a um serviço ou programa personalizado seja realizada por um profissional qualificado, no mínimo um licenciado em ciências do desporto com uma especialização em fisiologia do exercício e experiência profissional reconhecida na área.
Os cardiologistas, frisa o presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), João Morais, já se habituaram a recomendar a prática de exercício físico, mas não têm formação para o prescrever.
Além disso, frisa o cardiologista, uma coisa é recomendar exercício físico a pessoas sem problemas de saúde e outra, “muito diferente”, a pessoas com doenças.
O presidente da SPC aproveita, a propósito, para chamar a atenção para o problema do “défice da reabilitação cardíaca” no caso das pessoas que sofreram enfartes de miocárdio em Portugal — os programas actuais não chegam a 10% dos doentes, diz.
João Morais defende que, acima dos 50 anos, o exercício físico deve ser orientado. “É preciso avaliar a parte cardiovascular, muscular e motora. Estou cansado de ver doentes que tiveram de interromper o exercício porque fizeram entorses, por exemplo”, justifica.
Ainda assim, os riscos de problemas decorrentes do exercício físico são bem inferiores aos benefícios. O risco, muito mediatizado, de morte súbita durante ou logo após o exercício é muito baixo, lembra o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Manuel Carrageta.
ALEXANDRA CAMPOS
In “Público”