Será que conhecemos os nossos medicamentos, que tomamos cronicamente?
A medicação evoluiu ao longo dos últimos anos de uma forma extraordinária, com os respectivos ganhos em saúde que daí advieram.
Esta tecnologia em saúde observou evolução ímpar, com aumentos enormes de qualidade segurança e eficácia, atestada pelas autoridades competentes, e através de sistemas rigorosos de monitorização e controlo (apesar do crescendo do número de contrafacções em circulação através de canais menos próprios, como a internet).
Esta evolução veio acompanhada de um respectivo incremento no número de embalagens e comprimidos, em formato, cor, dimensão e até denominação (mudança de categoria de muitos medicamentos de marca para medicamento genérico, ou até nome das companhias de genéricos), isto aliado a um mercado de medicamentos genéricos muito activo, com um incremento do número de empresas no mercado e de moléculas. Daqui adveio uma dificuldade acrescida para o reconhecer do “nosso medicamento” habitual de toma crónica e até o medicamento de toma aguda pontual, mas que é consumido por “hábito”.
Na realidade, hoje em dia, existe uma percentagem elevada de pessoas que desconhece os seus medicamentos, suas dosagens e posologias (a maioria numa faixa etária mais avançada mas não só), e infelizmente esta situação coloca o cidadão em risco (troca de medicamento, dosagem e posologia) sendo uma situação de risco de saúde pública grave. Nas últimas semanas esta situação manifestou-se de uma forma cabal, com o atraso nas viagens aéreas (que sofreram condicionalismos elevados de vários dias), revelando que as pessoas (não respeitando as normas de viagem com medicamentos, em que devemos viajar com pelo menos 1 a 2 vezes a quantidade de medicamentos crónicos para a estadia, que já foi abordado em artigo anterior) socorreram-se da farmácia para adquirir os seus medicamentos, e pura e simplesmente não sabiam os nomes as dosagens e nalguns casos com dúvidas nas posologias.
Coloca também em risco pelo facto de ao ser acometido de doença súbita não poder expressar-se e ninguém saber de facto que medicação toma, tal como os casos da reconciliação terapêutica em que a passagem da comunidade para o hospital e o vice-versa gera sempre problemas elevados (doentes nas enfermarias que não estão a tomar a sua medicação habitual e aqueles que voltam a casa e não sabem que medicação devem tomar após internamento).
O cidadão que cronicamente consome medicamentos deve ter sempre consigo o passaporte da sua medicação, um documento que expresse a sua medicação em termos de nome comercial e denominação comum internacional, dosagem e posologia e apresentar sempre ao médico e ao farmacêutico para fazer as correcções necessárias. Este documento reveste-se de excepcional importância para os que vivem sós e que se encontram numa faixa etária mais elevada, sendo no entanto importante para todos. Este conceito insere-se numa utilização responsável do medicamento com partilha de responsabilidades entre todos os interlocutores, cidadãos e profissionais de saúde, fazendo parte do conceito de literacia em saúde.
BRUNO OLIM
Presidente da Ordem dos Farmacêuticos da Madeira
In “Jornal da Madeira"