Um estudo europeu no qual participaram investigadoras do Porto mostra que cerca 60% das crianças portuguesas são amamentadas durante seis meses ou mais, período superior ao registado na França, na Grécia e no Reino Unido.
Os resultados indicam que, no Reino Unido, apenas 35% das crianças são amamentadas depois dos seis meses, enquanto na França esse número fica pelos 26% e na Grécia pelos 23%, indicou à Lusa a investigadora Andreia Oliveira, da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), entidade envolvida na investigação.
O estudo, desenvolvido no âmbito do projecto europeu HabEat, juntou dados dos projectos Geração XXI (Portugal), ALSPAC (Reino Unido), EDEN (França) e EuroPrevall (Grécia), que acompanham o crescimento e desenvolvimento de crianças, desde o nascimento.
O objectivo era avaliar o efeito da duração do aleitamento materno e da introdução precoce de alimentos, para além do leite materno, na obesidade infantil. Outra das conclusões do estudo demonstra que apenas 6,4% das crianças portuguesas iniciam diversificação alimentar antes dos quatro meses, enquanto no Reino Unido isso acontece com 72,3% das crianças e na França com 29,1%.
Analisando os estudos individualmente, a equipa verificou que as crianças que fazem parte do projecto francês e que foram amamentadas por períodos inferiores a seis meses, eram menores aos cinco anos, comparativamente àquelas que consumiram leite materno durante mais tempo.
Pode a ingestão precoce de proteína levar à obesidade?
Adicionalmente, constataram que as crianças francesas que consumiram novos alimentos, para além do leite, antes dos quatro meses, apresentaram maior acumulação de gordura aos cinco anos de idade, caso que não se observou nos outros países.
No caso do Reino Unido, as crianças amamentadas por um período inferior a seis meses apresentaram estaturas superiores, situação explicada pelo facto de "se introduzirem muito cedo fórmulas proteicas para substituir o leite materno", indicou a Andreia Oliveira.
De acordo com a especialista, quando as crianças começam a consumir quantidades excessivas de proteína mais cedo, isso leva a um crescimento acelerado durante os primeiros meses de vida e pode estar associado, mais tarde, à obesidade.
Para atenção dos dados para o estudo foram avaliadas as práticas de alimentação infantil nos primeiros meses/anos de vida das crianças, bem como o peso, a estatura, o índice de massa corporal e a quantidade de massa gorda aos quatro e cinco anos de idade, nos quatro países.
Segundo a especialista, alguns estudos mostram que uma maior duração do aleitamento materno parece prevenir o desenvolvimento de obesidade infantil, mas outros trabalhos falham a provar esse efeito protector.
Neste estudo agora divulgado, os investigadores não encontraram uma "associação consistente" entre uma reduzida duração do aleitamento materno e a introdução precoce de outro tipo de alimentos com parâmetros como a estatura, o excesso de peso e a obesidade e a quantidade de massa gorda, mesmo juntando dados de países diferentes.
"A duração do aleitamento materno e a idade de introdução de outros alimentos, para além do leite, nos primeiros meses de vida, não parecem influenciar de forma consistente o desenvolvimento de obesidade, anos mais tarde", reforçou Andreia Oliveira.
Para as investigadoras, estes resultados apontam para a existência de outros factores que podem ser mais relevantes para explicar os elevados níveis de obesidade infantil.
O estudo, The effect of early feeding practices on growth indices and obesity at preschool children from four European countries and UK schoolchildren and adolescents, também com o envolvimento da investigadora do ISPUP Carla Lopes, foi publicado recentemente na revista European Journal of Pediatrics.
In “Público”