Médica coordenadora local de programa nacional anuncia que objetivos para quatro serviços já foram atingidos.

 

Dezassete das 20 equipas do SESARAM envolvidas no projeto “STOP Infeção Hospitalar” conseguiram reduzir as infeções hospitalares em quatro serviços. Os resultados, alcançados ainda antes do tempo, foram divulgados a 26 de junho, numa auditoria com a Fundação Calouste Gulbenkian e o Institute for Healthcare Improvement. Para a médica Margarida Câmara, coordenadora local do programa nacional, estes são «resultados excelentes», sendo que o objetivo, agora, é estender o projeto aos restantes serviços da instituição.

 

A Madeira tem tido problemas relativamente às infeções hospitalares. Tem havido evolução?

 

Neste momento, vamos a meio do projeto “STOP Infeção Hospitalar” e já conseguimos reduzir significativamente as infeções da corrente sanguínea associadas à utilização de cateter venoso central, as infeções do trato urinário associadas à algália, as pneumonias associadas à intubação e, ainda, as infeções do local cirúrgico. Temos visitas regulares dos técnicos da Fundação Calouste Gulbenkian e do Institute for Healthcare Improvement e, na última, que aconteceu a 26 de junho, eles vieram cá ver como é que estávamos e eu mostrei-lhes os nossos resultados.

 

 O que lhes transmitiu?

 

 Que os resultados eram excelentes. Das 20 equipas que temos nestes quatro serviços que participam no projeto [medicina interna, cirurgia geral, medicina intensiva e ortopedia], 17 conseguiram reduzir as infeções em mais de 50%. Quer isto dizer que 85% das equipas envolvidas conseguiram reduzir as infeções em mais de 50%.

 

Qual é a área que está sem infeções há mais tempo?

 

É a da corrente sanguínea associada à utilização do cateter venoso central, em que a última infeção remonta a agosto de 2015. No fundo, já tínhamos bons resultados na utilização de cateter mesmo antes do projeto. Aliás, dos 12 selecionados, o hospital ficou em 4.º lugar exatamente por isso.

 

E quanto a outras áreas?

 

No trato urinário, as infeções têm uma taxa muito baixa, havendo setores da Medicina Interna que já não registam infeções desde agosto de 2016. Em relação às infeções do local cirúrgico, há dois tipos de cirurgia: a da vesícula biliar, que já não regista infeções desde novembro de 2016, e a da prótese da anca e do joelho, que também já não tem infeções desde fevereiro de 2016.

 

Em relação à pneumonia associada à entubação, que é uma infeção que só existe nos cuidados intensivos, praticamente, foi reduzida já em 53%.

 

Estes são resultados animadores, até porque nem todos os 12 hospitais conseguiram reduzir as infeções em 50%.

 

O que é que se segue?

 

Nesta fase, surgiu a necessidade de estender o projeto aos outros serviços da instituição, de maneira a que, no final do projeto, em outubro de 2018, todo o hospital esteja a trabalhar desta forma.

 

Quais é que serão os próximos?

 

 São o serviço de urgência, a cirurgia cardiotorácica, o serviço de pneumologia e, mais tarde, os restantes serviços - todos eles vão ter que participar. Já temos isso agendado, vamos agora começar a reunir e a treinar as equipas.

 

É possível atingir esses objetivos até outubro de 2018?

 

Para estes quatro serviços já foram atingidos, agora vamos tentar atingir este resultado nos restantes serviços, mas penso que é possível. Este projeto trouxe uma nova forma de trabalhar, porque antigamente as monitorizações eram anuais ou semestrais, agora são mensais, o que permite intervir imediatamente. E darmos a conhecer estes resultados é bom, não só para os profissionais, mas também para o próprio utente: para os profissionais é uma motivação, e o utente, que vê estes resultados, também acaba por ter mais segurança no seu sistema de saúde.

 

Estes resultados também vêm provar qualquer coisa aos críticos...

 

Sim. Os resultados anteriores também já eram animadores. Para além de termos o nosso site atualizado, costumamos realizar a Semana do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e de Resistência aos Antimicrobianos, onde apresentamos bons resultados em quase todas as vertentes. Este é um trabalho continuado e é essencial a colaboração de todos, incluindo do próprio utente.

 

E os utentes, estão sensibilizados?

 

Penso que tem havido uma enorme mudança de consciência nestes últimos anos, também à custa da comunicação. Tanto que há utentes que já nos alertam para pequenos problemas como a utilização de antibióticos e a resistência das bactérias ou mesmo os riscos do internamento.

 

Quais são as áreas clínicas ainda vulneráveis?

 

Qualquer serviço pode ter situações que estejam associadas a infeção. O que nós temos que fazer é trabalhar todas da mesma maneira.

 

O risco de infeção continua a ser muito alto?

 

Sim, por isso é que nós preconizamos que os doentes só devem ser internados se necessário. Qual é a taxa de mortalidade?

 

Penso que não há nenhum hospital que tenha a taxa de mortalidade associada às infeções. Quando o doente morre, não se sabe se a morte se deveu à doença de base ou à infeção. É difícil distinguir e, por isso, não é fácil calcular.

 

Qual é a que representa maior risco?

 

É a infeção da corrente sanguínea, que é, basicamente, a presença de bactérias no sangue. Pode ter várias origens, tanto pode ser de um infeção urinária como de uma infeção do local cirúrgico ou mesmo de uma pneumonia. A mortalidade estimada anda à volta dos 30 a 40%.

 

Reduzir infeções para metade até 2018

 

O projecto “STOP Infeção Hospitalar”, da iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian em parceria com o Ministério da Saúde e o Institute for Healthcare Improvement, dos Estados Unidos, procura reduzir em 50% a incidência das infeções hospitalares até 2018. De 30 candidaturas, o Serviço de Saúde da Região viria a ser um dos 12 hospitais selecionados, mediante concurso público, para integrar o programa, ocupando o 4.º lugar da lista. Em concreto, o “Stop Infeção Hospitalar” consiste na implementação de um Sistema de Aprendizagem Colaborativa nas mesmas unidades de saúde, em articulação com os Grupos de Coordenação do Programa de Prevenção e Controlo da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (GCPPCIRA).

 

Serviços do Funchal com taxa «zero»

 

Em maio, já algumas equipas médicas tinham alcançado a «taxa de zero por cento de infeções», nomeadamente equipas do Hospital dr. Nélio Mendonça e do Hospital dos Marmeleiros, que implementaram as medidas do “STOP Infeção Hospitalar”, anunciava, na altura, a médica Margarida Câmara. Foram «dez» os «gestos simples» que tiveram implicações «muito positivas» e que, segundo a coordenadora regional do projeto, têm vindo a ganhar cada vez mais adesão nos serviços.

 

Reduzir o consumo de antibióticos - como forma de diminuir a crescente resistência aos antimicrobianos e às infeções - e higienizar as mãos são algumas das recomendações da profissional de saúde. «Há gestos simples que salvam vidas», vincou.

 

In “Jornal da Madeira”