Controlada a epidemia de sarampo que surpreendeu o país, as baterias estão apontadas a evitar que se repitam novos surtos por falta de vacinas.
Está em marcha uma megaoperação de vacinação contra o sarampo. A nova norma da Direção-Geral da Saúde (DGS) foi emitida ontem, no mesmo dia em que a autoridade de saúde declarou o fim da epidemia que surpreendeu o país e fez a primeira vítima mortal desta doença em 30 anos, uma adolescente de 17 anos que não sobreviveu a complicações do sarampo.
Trata-se de uma campanha de vacinação de repescagem, ou seja, o objetivo é chegar a crianças e jovens que não fizeram a vacina quando deviam ter feito, mas também a profissionais de saúde e adultos nascidos a partir de 1970 e que nunca tenham feito a vacina ou tido a doença.
Graça Freitas, subdiretora-geral da Saúde e responsável pelo Programa Nacional de Vacinação (PNV), explicou ao i que estão disponíveis 200 mil doses e que é sensivelmente esse o número de pessoas a que pretendem chegar. A vacinação do sarampo em Portugal começou em 1973 e a vacina foi incluída no PNV em 1974.
Nos anos 90 foi introduzida uma segunda dose da vacina trivalente, que inclui a imunização contra o sarampo. Atualmente, o PNV recomenda a primeira dose desta vacina aos 12 meses e a segunda aos cinco anos, antes da entrada para a escola. Com uma taxa de cobertura superior a 95%, isto significa que, nos últimos anos, têm ficado por vacinar cerca de 4% das crianças, público a que os centros de saúde já estavam a tentar chegar. Agora reforçam--se as instruções para procurar não só menores de 18 anos que não tenham a vacina em dia, mas também profissionais de saúde, independentemente da idade, e adultos com menos de 47 anos, que têm menos probabilidade de ter sido expostos à doença e poderão não ter feito a vacina.
Graça Freitas sublinha que as 200 mil doses disponíveis serão suficientes para abranger a maioria das pessoas que poderiam beneficiar, ajudando assim a diminuir o risco de poderem surgir novos surtos, pois, além da proteção individual, uma elevada cobertura da vacina contribui para uma proteção de grupo, havendo menos risco de propagação do vírus caso cheguem ao país casos importados do estrangeiro.
O número de casos de sarampo notificados na Europa desde o ano passado e a epidemia em Portugal, depois de três anos sem haver registo da doença, são os argumentos da DGS para lançar a campanha. Segundo dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, a situação mais problemática vive-se neste momento na Roménia, onde os casos continuam a aumentar. Entre janeiro de 2016 e junho de 2017, o país registou 7233 casos e 30 vítimas mortais. Itália vive a segunda pior epidemia, com 2988 casos registados desde o início do ano. A idade média dos doentes é de 27 anos e 89% não estavam vacinados. Na Alemanha já houve este ano 723 casos, sete vezes mais do que no mesmo período de 2016. Em Portugal registaram-se 31 casos, 65% em maiores de 18 anos. Mais de metade das pessoas que contraíram o vírus não estavam vacinadas e 42% eram profissionais de saúde.
Apelo por sms
A campanha vai contar com a reserva estratégica de vacinas adquirida este ano, num total de 200 mil doses que têm dois prazos de validade: março de 2018 e janeiro de 2019. A DGS define diferentes esquemas vacinais. Por exemplo, os profissionais de saúde só precisam de fazer uma dose, e o mesmo acontece com os adultos nascidos depois de 1970. Os portugueses inscritos nos centros de saúde deverão receber uma convocatória para fazer a vacina, apelo que poderá inclusive chegar por sms, adiantou ao i Graça Freitas. A campanha terá uma primeira avaliação em setembro
MARTA F. REIS
In “Jornal I”