A Escabiose ou Sarna Humana, como é comumente designada, é uma infecção cutânea causada por um ácaro, o Sarcoptes scabiei var. hominis, que reside na epiderme dos hospedeiros.

 

O ácaro fêmea cava túneis sob a camada superior da pele (epiderme) e aí deposita os seus ovos, os quais, após alguns dias, eclodem em larvas. Isso provoca muita comichão.

 

Trata-se de um parasita exclusivo do ser humano que é incapaz de viver e de se reproduzir num hospedeiro de outra espécie. Não está, portanto, correcta a ideia pré formada de que a fonte de contágio da Sarna seja um animal. De facto, a Sarna Canina, por exemplo, pode transmitir-se a um ser humano que tenha um contacto próximo e frequente com um cão infectado. Mas, como o acaro que parasita o cão não é capaz de se reproduzir na pele humana, os casos são pouco frequentes e o quadro clinico é autolimitado, desaparecendo em pouco tempo.

 

Muitas vezes, mas erradamente, foi considerada como estando erradicada na actualidade. Mas a verdade é que todos os anos são identificados perto de 300 milhões de casos em todo o mundo. Mesmo tratando-se de uma doença relativamente frequente, nos dias de hoje o seu diagnóstico deixa quase sempre o doente e a sua família surpreendidos. Costumam adoptar uma atitude defensiva em relação aos seus hábitos de higiene, uma vez que existe uma conotação negativa desta doença com falta de higiene. Importa compreender que, de facto, a Sarna Humana pode afectar qualquer pessoa, independentemente da classe social a que pertence, ainda que efetivamente ocorra com mais frequência em condições de alojamentos sobrelotados e onde há poucos hábitos de higiene. Nos países temperados, existem mais casos durante o inverno devido à diminuição da temperatura durante este período e isso permitir ao parasita sobreviver mais tempo fora do hospedeiro.

 

 A transmissão faz-se pelo contacto cutâneo directo prolongado com indivíduos parasitados ou por contacto indirecto, nomeadamente através da roupa de cama, toalhas, etc. As crianças desempenham um papel importante na disseminação da doença por exigirem contacto físico próximo em casa e/ou nos infantários.

 

Quanto maior o número de parasitas no hospedeiro maior é a probabilidade de transmissão, daí a importância de diagnosticar e tratar o mais cedo possível esta doença.

 

A comichão com agravamento nocturno é o principal sintoma causado pelo efeito traumático dos fenómenos irritativos resultantes da actividade do parasita na pele. Podem ainda observarse pápulas, nódulos, vesiculas e galerias na pele, resultantes da acção perfurante do acaro e da reacção cutânea subsequente à actividade do parasita. No adulto, as lesões distribuem-se abaixo do pescoço com predomínio na parte da frente das axilas, cintura, região umbilical, região glútea, face interna das coxas, face anterior dos pulsos, espaço interdigital dos dedos das mãos, cotovelos e palmas das mãos. Nas mulheres podem ainda ocorrer nas aurelas mamárias e no homem na região genital. Nas crianças as lesões são generalizadas, atingindo com frequência o couro cabeludo e a face.

 

O tratamento da Escabiose passa, quase exclusivamente, pela aplicação tópica de um creme contendo um antiparasitário. Em Portugal, a substância mais frequentemente utilizada no tratamento da Sarna Humana é o Benzoato de Benzilo. No entanto, existem outras substâncias também referenciadas para o tratamento desta doença, como por exemplo a permetrina e o lindano. O enxofre é o mais antigo escabicida, e ainda nos dias de hoje é muito usado no tratamento de bebés e mulheres gravidas devido à sua baixa toxicidade.

 

A aplicação do creme de tratamento deve ser feita após tomar um banho quente e secar bem a pele. Deve-se friccionar todo o corpo com o medicamento, com excepção da face, olhos, mucosas e meato uretral. Deixar secar e repetir o processo. Após 24h, tomar novamente banho e mudar a roupa do corpo e da cama. Embora em alguns doentes uma única aplicação seja suficiente, é aconselhável repetir esta aplicação por mais dois dias consecutivos. Para eliminar possíveis ovos que mesmo assim não tenham eclodido durante esta fase do tratamento, poder-se-á repetir outros três dias de tratamento passados 7 a 10 dias.

 

Concluído o tratamento, a comichão pode permanecer durante várias semanas, principalmente em indivíduos atópicos. Em muitos casos, não se trata de uma falha do tratamento, mas sim da reacção imunológica do organismo aos restos dos parasitas ou ao próprio medicamento, uma vez que após o tratamento podem ocorrer xerose cutânea pruriginosa ou lesões eczematosas. Para o controle da comichão nesta fase, devem ser usados anti-histamínicos e, para o tratamento do eczema, cremes emolientes. Utilizados intensivamente estes produtos podem prevenir a necessidade de tratamento com corticóides tópicos.

 

Todos os indivíduos que possam ter contacto próximo com um caso diagnosticado devem ser tratados em simultâneo, manifestem ou não sintomas. Isto porque, mesmo apresentando-se assintomáticos, podem estar infectados mas ainda em período de incubação e são igualmente contagiosos.

 

O período de contágio só termina quando todos os ácaros e ovos forem destruídos, o que acontece no dia seguinte ao tratamento ser dado como terminado.

 

Para evitar re-infestações é importante no dia a seguir à primeira aplicação: lavar toda a roupa, toalhas e lençóis a, pelo menos, 60ºC ou secar na máquina de secar roupa. Os artigos não laváveis devem ser fechados num saco plástico durante pelo menos 72h. Nos móveis e sofás dever-se-á aplicar insecticida. Não é necessário tratar os animais domésticos.

 

As crianças e os adultos podem voltar à escola/trabalho no dia a seguir ao tratamento. Os colegas de turma, professores ou colegas de trabalho não precisam de ser tratados se não apresentarem sintomas de infecção.

 

DRA. SARA DUARTE

 

Farmacêutica da Farmácia do Caniço

 

In “Jornal da Madeira”