Pedro Ramos, secretário regional da Saúde
Seis meses após ter sido nomeado o terceiro secretário regional da Saúde, o cirurgião Pedro Ramos fala de todos os sectores sob a sua tutela.
Sempre otimista, o governante está convencido de que começará a poupar dinheiro na área da Saúde quando o serviço regional conseguir a eficiência que preconiza. Para lá chegar, avisa, é preciso investir mais. Pedro Ramos aponta o envelhecimento como “maior desafio da Saúde” nos próximos anos. “Estamos a gerir o nosso sucesso: a esperança média de vida é das mais altas da União Europeia”, aponta, consciente das lacunas e dos avanços que caracterizam o momento atual da Saúde regional. “Estou à frente de 5 mil pessoas para cuidar de 250 mil”.
Completa seis meses na Secretaria Regional da Saúde. Alguma vez se arrependeu?
Não, foi uma decisão acertada. Estou satisfeito pelo convite, um sinal de reconhecimento do trabalho feito anteriormente. Não estou arrependido porque nesta posição continuo a trabalhar para a população.
Encontrou algo de inesperado?
Liderar a pasta da Saúde pressupunha arranjar uma equipa que tivesse também características semelhantes: competência, conhecimento, capacidades, cidadania e, acima de tudo, pautar a missão com rigor, respeito e responsabilidade.
Porquê essas características?
Para ir ao encontro do programa de governo na área da Saúde. Achámos que iríamos começar um ciclo novo – não no programa que já estava estabelecido dois anos antes e que teve início com os meus colegas, dr. Manuel Brito e dr. João Faria Nunes. O ciclo novo era uma equipa nova, com conhecimento da área.
Algumas das suas escolhas foram colocadas em causa...
Houve muitas questões postas em relação à nossa equipa, por exemplo em relação ao facto da presidente do Conselho de Administração não ser propriamente da área da Saúde. A Dr.ª Tomásia já esteve em Conselhos de Administração em áreas diferentes, teve um bom papel; a comparação que faço é com a Dr.ª Isabel Vaz, da ‘Luz Saúde’, que também não é médica, é engenheira química. O que define a nossa equipa é as pessoas. Temos uma equipa de excelência. A primeira tarefa foi para fazer o retrato do Serviço Regional de Saúde.
Qual foi esse retrato?
Estávamos a sair de uma situação após uma fase muito restritiva, com o Programa de Ajustamento Económico e Financeiro, que trouxe um obstáculo à velocidade que o SESARAM estava a ter nos últimos anos.
Houve uma evolução nos últimos 30 anos que permitiu, através do ‘boom’ social que a Madeira atravessou, que todas as áreas se desenvolvessem e que a área da saúde também tivesse essa oportunidade. Nestes últimos 30 anos, o SESARAM pautou-se sempre por um desenvolvimento, por uma diferenciação, por uma modernização do seu equipamento e da sua tecnologia. O PAEF foi um contra-tempo, ao fim e ao cabo. A nossa atividade manteve-se, mas o ‘feedback’ para os profissionais não foi o mesmo. Continuámos a ter atividade essencial no Serviço de Urgência, nos centros de saúde, mantivemos o bloco operatório em funcionamento, continuámos a fazer consultas.
Atravessámos este período restritivo, e estamos a agora a começar um ciclo novo que é feito por novas pessoas: estamos aqui em missão pela população, mas também por todos os profissionais da área da saúde: médicos, enfermeiros, técnicos, sociólogos, psicólogos, assistentes sociais. Estou à frente de 5 mil pessoas para cuidar de 250 mil. A proporção é um pouco assimétrica, mas tenho muita confiança nestas 5 mil pessoas para tratar das 250 mil na Madeira, com segurança, qualidade e eficiência.
Não havia segurança?
Com eficiência significa que continuaremos a tratar bem, mas vamos começar a poupar dinheiro na área da saúde, gerindo melhor, conduzindo melhor o Serviço Regional de Saúde ao encontro das nossas expetativas e população. Gerindo bem a Saúde, até podemos gastar um pouco mais, mas estamos a poupar em termos de reflexo, no impacto para os próximos anos.
Mas a Saúde, para poupar, tem de apostar mais e investir mais nos cuidados de saúde primários, fazer com que sejam o rosto do SESARAM. Vai ser possível. É aquilo que estamos a refletir hoje em dia, e desde que começámos há seis meses. Com as nossas decisões, é o resultado que vamos ter a curto, médio e longo prazo.
Como tenciona poupar?
Investindo um pouco mais! O investimento é para planear melhor, organizar melhor, dar melhor ‘feedback’ aos nossos profissionais e, como consequência, termos uma melhor resposta para a população.
Todas estas análises que temos feito, para ter impacto a curto, médio e longo prazo, têm que se refletir na saúde geral das pessoas. Quando pensamos nesse impacto é para ter consequências no ciclo de vida das pessoas, desde que nascem até morrer; até mesmo nesta fase final, nós estamos preocupados com aquilo que temos que passar a oferecer às pessoas.
Neste momento estamos a gerir o nosso sucesso: a esperança média de vida é das mais altas da União Europeia. Porque passámos a tratar muito melhor os eventos agudos, desde que temos implementadas as Vias Verdes, para o trauma, para acidentes coronários, para os AVC’s... Todos esses eventos agudos têm tido desenlaces muito superiores ao que tínhamos anteriormente e como tal as pessoas estão com mais esperança de vida.
Estamos a ser ‘vítimas’ desses melhoramentos…
O que é que vai acontecer? O nosso sucesso não pode ser uma ameaça para o futuro. Temos estudos e estamos conscientes que o envelhecimento é o maior desafio da Saúde para os próximos anos: estamos bem nos eventos agudos, nos eventos crónicos, o envelhecimento é o nosso desafio.
Agora, nós não queremos que as pessoas envelheçam só por si; o envelhecimento tem que ser ativo e saudável. E é aqui que entra toda uma série de parcerias a título individual, coletivo, associativo, a nível do Governo, ao nível das autarquias locais, no sentido de começarmos a pensar quais as medidas a serem implementadas nos próximos 20 anos na RAM para que o envelhecimento da população da RAM seja ativo e saudável.
Quase todos os dias somos confrontados com episódios de falhas, de faltas de médicos e de medicamentos. Factos concretos que não são “erros jornalísticos”...
Segundo me parece, a Comunicação Social não interpretou bem quando falei no chamado erro jornalístico...
Mantém essa expressão?
Mantenho. Porque tem a ver com as fontes, não tem a ver com a Comunicação Social. Na minha atividade eu procuro fontes que me permitem tratar melhor os meus doentes: vou a revistas de especialidade, artigos mais recentes, tudo aquilo que me dá a garantia de uma nova abordagem, mais segura e com mais qualidade, para o meu doente.
Quando é para falar sobre Saúde, aquilo que a equipa do Serviço Regional de Saúde quer é que todos tivessem a mesma preocupação. Porque a Saúde não tem cor política, é dos cidadãos, é da população da RAM. Essa população votou no programa do PSD, por isso é que nós temos a missão de o concretizar, temos essa grande responsabilidade.
Depois vem uma responsabilidade acrescida, que é a dos prestadores, que para além de tratarem bem os seus doentes, de acordo com a sua formação, a sua diferenciação, a tecnologia, o equipamento que tem disponível, devem otimizar tudo aquilo que está à sua disposição para então falarmos de financiamentos, de produção, resultados e de ganhos em Saúde.
Finalmente, temos a responsabilidade dos decisores, que para decidirem bem, precisam de ter números. Terça-feira passada foi um dia extremamente feliz para a nossa equipa porque, como estava prometido, publicamos um caderno no JM, com o título de ‘Proximidade e Transparência: mais Saúde, mais Vida’, com os números da nossa atividade. Está tudo acessível.
É uma prática para continuar?
Sim, é para continuar até de uma forma muito mais evoluída, recorrendo às tecnologias da informação. Resulta também das reuniões que temos tido com os Serviços partilhados do Ministério da Saúde, com a Administração Central dos Serviços de Saúde, com o próprio Infarmed.
Voltando ao que chamou de “erros jornalísticos”, reconhece que exagerou?
Depende da forma de interpretar... Não quero fazer análises nem comparações, mas a polémica que tem sido levantada pelo facto uma colega vossa [Judite de Sousa, TVI] ter feito uma reportagem junto a um cadáver, também se pode dizer que é lamentável.
O que é que espera dos partidos políticos e dos seus colegas médicos que têm outras funções públicas?
Em primeiro lugar, vão ficar surpreendidos, porque é a primeira vez que estes dados são revelados; em segundo lugar, vão fazer uma análise detalhada sobre a atuação do SESARAM. Comparámos os nossos primeiros três meses com os três meses de 2016 para saber se, de facto, nós conseguimos trazer algo novo.
Percebe-se o seu otimismo...
Tenho que estar otimista, a nossa equipa está otimista, porque nós temos uma missão a desempenhar.
Mas percebe o pessimismo que vai lá fora?
Diariamente somos fustigados com informações, com suspeitas, com colocação de questões que muitas vezes nem sabemos onde é que as foram buscar. Diariamente, ou dois ou três dias depois, e mas muitas vezes já no dia seguinte, desde que nós tenhamos a certeza do que é que vamos contrapor, nós temos sempre uma informação para dar.
Estamos muito satisfeitos por nos chamarem à atenção. Todas essas chamadas de atenção que a Comunicação Social tem feito à equipa da Saúde tem permitido uma análise acrescida. Não é só o SESARAM que tem problemas. O Serviço Nacional de Saúde também Medicamentos: “Passámos de 1.500 dias de atraso de pagamento para 30 dias”. tem problemas...
A falta de medicamentos é o maior problema do SESARAM?
Não é um problema do SESA- RAM, é um problema do País. É um problema dos países da Comunidade Europeia. No mês de maio houve uma reunião dos ministros da Saúde e um dos temas que foi debatido foi o custo dos medicamentos. Ora, no nosso orçamento, 40 milhões de euros são para medicamentos. Quase 50% do total dessa verba são para três áreas: vírus da imunodeficiência humana, doença oncológica, doença imunológica. O uso do biossimilares, fármacos que são extremamente caros, é uma situação que tem que ser avaliada.
A Madeira começou a ter os seus problemas. É um ciclo novo em que nós estamos a abordar a indústria farmacêutica de uma forma diferente e ela está a fazer o mesmo connosco.
Sou do tempo em que a indústria farmacêutica, porque era para a Saúde, não colocava qualquer tipo de barreira. Com o PAEF a indústria farmacêutica passou a disponibilizar apenas quando nós começámos a pagar. Foi preciso um período de tempo prolongado para nivelar uma situação que se prolongou durante 20 anos. Passámos de 1.500 dias de atraso de pagamento para 30 dias.
Mesmo com a falta de um ou outro medicamento que pode durar um dia, três dias, até às vezes uma semana, o medicamento aparece e é utilizado pelo doente.
Pode assegurar que não há ninguém em perigo de vida?
Posso assegurar. Porque nós não aumentámos a morbilidade nem a mortalidade. Não há perigo de vida. Esta situação não é única no SESARAM, qualquer hospital do País passa pelo mesmo. Posso dar um exemplo: o Hospital dos Capuchos determinou que não fazia tratamentos da Hepatite C, porque a nível nacional há outros hospitais que iriam fazê-los. Os tratamentos da Hepatite C eram tão caros que o ex-ministro Paulo Macedo, na altura, fez um boicote à indústria farmacêutica e passou-se a tratar estes doentes em Portugal. O ministro Paulo Macedo teve uma conduta acertada, porque neste momento, os medicamentos da Hepatite C reduziram para um terço. E porquê? Porque antigamente falava-se num único medicamento e hoje em dia temos já um grupo de 8 a 10 medicamentos novos. Nós temos os nossos doentes com a Hepatite C, o nosso rácio é semelhante ao nacional e estamos a tratá-los como estão a ser tratados os doentes nacionais.
Há também outros problemas com as cirurgias, listas de espera, demoras...
Fui diretor da Urgência durante nove anos mas também fui diretor clínico durante tanto tempo quanto o que tenho agora no SRS. Participei com o meu amigo dr. João Faria Nunes na elaboração dos programas de recuperação de cirurgia, porque na altura era diretor clínico e isto até começou com o dr. Eugénio. O plano iniciou-se no final de 2015 e finalizou em 2016. Nesse ano operámos 660 doentes.
O impacto não foi muito grande…
Porque entre as especialidades que começaram o programa de recuperação de listas de espera – tínhamos a ortopedia, a oftalmologia, a urologia, a cirurgia vascular, a neurocirurgia – havia intervenções que demoravam muito tempo, três a quatro horas. Depois, em termos de consumos, também eram extremamente mais onerosas. Portanto, com 1.200 mil euros, que foi aquilo que o GR propôs para recuperar algumas das cirurgias que estavam em atraso, fizemos cerca de 660. O impacto foi pequeno porque de facto houve tempos operatórios que foram muito mais prolongados. Neste segundo ano planificámos melhor e a mesma verba foi utilizada em seis meses, portanto, desde janeiro até junho.
O programa está parado, portanto...
Não, o programa não está parado. Está esgotada a verba. Mas o hospital não está parado, não recusou consultas, não recusou novas admissões. Já vi na Comunicação Social e comentado por outro tipo de pessoas, que o programa de recuperação de cirurgias do Governo estava a ser realizado mas que o hospital mantinha ainda o mesmo número. Agora temos os números certos, que estão disponíveis no microsite, foram publicados terça-feira no JM e de facto o número de cirurgias em atraso são cerca de 11 mil no caso da cirurgia convencional, cerca de 6 mil no caso da cirurgia de ambulatório e cerca de menos de um milhar no caso da pequena cirurgia. Estes números não nos envergonham porque são facilmente ultrapassáveis nos próximos tempos.
Como é que fará isso?
Nos próximos tempos, quando tivermos a cirurgia de ambulatório a funcionar em pleno – porque já funciona com duas salas, com a oftalmologia e com a urologia – nós vamos ter quatro salas em atividade permanente e vamos ter determinados tipos de especialidades em que toda a cirurgia vai ser feita em ambulatório: as vesículas, as varizes, as hérnias, as hemorroidas, as fístulas… O doente nem fica internado no hospital, é o novo paradigma da Saúde para os próximos anos. O que vai ao encontro da forma como o novo hospital está a ser concebido, no que diz respeito à área cirúrgica, mas também no que diz respeito à área médica.
E nas consultas, também está satisfeito com os tempos máximos, com a atual capacidade de resposta?
Na próxima divulgação da atividade do SESARAM, já vamos ter os tempos de resposta. Neste momento, a forma como o sistema informático estava a fazer a recolha da informação não permite chegar a esse tipo de conclusão. Esse é um dos desafios para a equipa da Saúde nos próximos meses: fazer uma nova análise e ver com as pessoas se estão motivadas para responder de maneira diferente. Temos consciência de que precisamos desses dados para poder decidir melhor, porque se tiver dados em especialidades que tenho consultas com uma lista de espera também superior, também podemos propor em termos de resposta adequada à população uma recuperação em termos de consultas. Como já foi feito nalgumas especialidades em tempos anteriores.
Já tem perceção da situação?
A perceção da situação é a mesma das cirurgias: temos gente que já foi operada, gente que já não quer ser operada, gente que já faleceu, gente que já não vive na RAM, gente que, para além desse problema, já tem outro e que já está em lista de espera para resolver esse outro problema e já tem outro tipo de resposta.
Entramos na polémica questão da ‘limpeza das listas de espera’...
Nós fizemos uma expurga, sob o ponto de vista administrativo e também sob o ponto de vista clínico. O SESARAM não tem sustentabilidade financeira para fazer dois a três exames semelhantes anuais, porque uma pessoa que fez uma ressonância não precisa de fazer uma segunda ressonância no mesmo ano; uma pessoa que fez um TAC não precisa de fazer um segundo TAC no mesmo ano. A Saúde tem que ser entendida de uma forma equilibrada, os cidadãos têm que ser responsáveis, os prestadores têm que ser responsáveis porque só assim é que o SESARAM se tornará sustentável.
Médicos de fora: respeitar as opções
Pedro Ramos assume que a principal preocupação da Secretaria Regional da Saúde é dar resposta às necessidades da população. “Gostava de contar com todos os profissionais de saúde da Região para a prestação de cuidados. Mas, naturalmente, temos de respeitar as opções de cada profissional”, diz, a propósito da indisponibilidade de vários médicos, que obriga a recorrer a médicos de Lisboa.
“A Secretaria Regional da Saúde está muito agradada com a postura cooperante do Bastonário da Ordem dos Médicos, a qual permitiu já desbloquear as vagas para as especialidades médicas mais carenciadas do Serviço de Saúde da RAM. Neste sentido, esperamos da parte da estrutura regional da Ordem uma postura semelhante para concretizar o objetivo de prestação de mais e melhores cuidados de saúde à população” - atira, numa resposta às críticas de António Pedro Freitas, da Ordem dos Médicos na Madeira.
Vêm aí as Unidades de Saúde Familiar
Centros de Saúde serão o nosso rosto
Na última parte da entrevista, o secretário regional da Saúde fala da Medicina Nuclear, dos problemas com os meios complementares de diagnóstico e ainda do importpapel reservado aos Centros de Saúde
. Há uma nova etapa com a medicina nuclear? Esta é uma semana particularmente feliz, não só pela divulgação dos dados da nossa atividade, mas também porque finalmente, e tal como eu disse no dia 20 de fevereiro de 2017, no Parlamento regional, respondendo a uma pergunta de um deputado da JPP, a medicina nuclear na RAM vai ser uma realidade. Agora, para informar toda a gente, devo dizer que a medicina nuclear na RAM não é uma nova realidade, a novidade é que passa a ser feita no hospital. Porque a medicina nuclear na RAM já existe desde 2009, na Clínica Quadrantes, porque era uma clínica que tem uma contratualização de serviços com o SESARAM.
Em relação à medicina nuclear estamos extremamente satisfeitos porque esta semana começaram os primeiros exames e começaram da forma mais segura, da forma mais sensata. Há também problemas com os meios complementares de diagnóstico e terapêutica...
Foi dito que a oncologia na Madeira estava com um atraso de três anos. Não está com um atraso de três anos porque, no que diz
respeito à medicina nuclear, desde 2009 que ela existe, portanto, desde 2009 que ela está disponível para o doente oncológico na RAM. Quando esse exame era requisitado pelos nossos profissionais, havia sempre um local para ser feito. O exame da Tomografia por Emissão de Positrões (PET), até pelo acordo de princípio de reciprocidade que temos com o SNS, não se justifica na RAM neste momento: a Entidade Reguladora da Saúde estabelece um rácio de um milhão de habitantes para a existência de um aparelho desses. Os doentes da RAM fazem PET sempre que o Serviço de Hemato-Oncologia determina que é um exame que poderá trazer uma informação adicional para o doente oncológico. O doente da RAM faz PET há mais de 20 anos, não havia em Portugal, faziam em Madrid.
Quando se diz que a Madeira está em atraso na área da oncologia, acho perfeitamente errado. Ainda mais quando é um serviço que nós estamos agora com grandes esperanças, porque já passou por grandes dificuldades, tivemos que pedir ajuda ao Centro Académico de Medicina de Lisboa, ao Hospital Stª Maria, para fornecer oncologistas para virem à Madeira,
quando tivemos uma série de profissionais que, por razões da sua vida pessoal, não podiam prestar a sua atividade, e neste momento é um serviço em expansão no SESARAM, é um serviço neste momento com sete elementos. Portanto, é um serviço com uma garantia de resposta para o futuro no que diz respeito à sua composição, diferenciação e formação.
Vamos aos Centros de Saúde. Continuam a ser uma aposta?
Temos como objetivo principal tornar os cuidados de saúde primários no rosto do SESARAM. Isso passa por ter uma melhor planificação, uma melhor organização. Há um documento que foi elaborado pela equipa anterior e que foi apresentado à Comunicação Social no dia 13 de julho no Centro de Saúde de Gaula. Neste momento está pronto a ir para o terreno.
A introdução das USF-Unidades de Saúde Familiar está a correr de acordo com o previsível?
As visitas que fizemos à USF de Matosinhos e aos Açores permitiram consolidar todo o nosso pensamento sobre a primeira USF da RAM, que vai ser criada na Ponta do Sol, cuja equipa já está constituída, com procedimento jurídico já realizado, cuja necessidade inicial de inscrição na plataforma da ASS já está autorizada pela sua diretora, a dr. Marta Temido. A única coisa que nos falta é fazer as reuniões finais com os colegas que vão ser responsáveis pela implementação da primeira USF da Ponta do Sol. Queremos ver se conseguimos implementar ainda antes das férias do verão...
A Ponta do Sol vai ser um exemplo para todos os outros?
Vai ser esse o exemplo que vai puxar pelos outros. Esperamos abrir talvez depois do verão, iniciar novos procedimentos no sentido de termos o mesmo modelo de organização em termos de resposta. Vamos começar primeiro na Ponta do Sol, vamos aguardar um mês ou dois, e depois de analisarmos os primeiros resultados e de os apresentarmos à restante comunidade de Medicina Geral e Familiar, ver quais são as outras zonas que se sentem já com vontade e com motivação para iniciar o mesmo processo.
Outra questão: o transporte de doentes continua com muitas reclamações.
O transporte de doentes é mais um exemplo de como a nossa equipa tem atuado: analisar o problema, ver as soluções que estão disponíveis no mercado, contatar com todas as entidades que nos podem dar alguma resposta e, a partir daí, propor a celebração de contratos no sentido de termos a resposta que a população exige.
O novo hospital vai permitir concentrar recursos, porque para além de termos esta dispersão de recursos, os recursos que estão disponíveis já não têm a fiabilidade, e estou a falar nomeadamente de hospitais como os Marmeleiros, o João de Almada, e mesmo o próprio Hospital dr. Nélio Mendonça que já vai com 44 anos de existência. Será sempre muito mais caro fazer obras nestas três instituições do que construir um hospital novo, que vai permitir menos despesas no SESARAM.
Temos uma média de 400 transportes por dia, não só entre estas três unidades, dada a dispersão de recursos e as características de determinadas especialidades: na área oncológica, da diálise, da Quadrantes, da medicina física e reabilitação, entre hospitais e centros de saúde.
Tivemos de arranjar cabimentação para ir resolvendo gradualmente os problemas dessas unidades de transporte e continuamos a ter contactos com empresas para que nos dêm a resposta mais adequada.
Os transportes estão em vias de resolução e estamos a tentar corresponder a todas as solicitações que temos. Agora, dizerem que as unidades que temos à nossa disposição não estão desinfetadas, que não são limpas, que oferecem perigo para os utentes, penso que também já é um exagero. Mas por aqui me fico.
Novo hospital: confirmar compromisso no próximo mês
O dossier novo hospital tem uma componente política muito forte. “Está na fase em que queríamos que estivesse: analisado, debatido e discutido com os profissionais de saúde”, refere Pedro Ramos ao JM. “Sob o ponto de vista clínico a estrutura física já está dividida, distribuída, organizada e planificada em termos de área médica, cirúrgica, pediátrica, de saúde mental, de saúde materna e infantil.” O projeto transitou para a Secretaria Regional dos Assuntos Parlamentares e Europeus, neste momento está a ser criada a Comissão Tripartida. “Estamos à espera do momento adequado, que esperamos que seja já no próximo mês, para a divulgação do tal compromisso verbal do senhor Primeiro Ministro de, em termos de financiamento, o Governo Central se responsabilizar por 50 por cento do custo total da obra. De facto será um passo em frente. Até ao final do ano veremos se podemos apresentar o projeto final, para termos o financiamento”, confidencia o secretário regional da Saúde..
Agostinho Silva e Tânia R. Nascimento
In “Jornal da Madeira”