No critério "erradicar a fome" entre as crianças o país sai-se mal. Mas aparece em primeiro lugar em matéria de saúde e "bem-estar", segundo estudo divulgado nesta quinta-feira.
Portugal é o país que apresenta melhores índices de saúde de qualidade e bem-estar das crianças entre os Estados mais desenvolvidos, embora na classificação geral sobre situação das crianças apareça na 18.ª posição.
Os números fazem parte do último relatório da Unicef sobre a situação das crianças nos 41 países considerados mais ricos, incluindo os da União Europeia e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Construir o Futuro: As crianças e os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável nos países ricos é o tema do relatório, o primeiro que avalia a situação das crianças nesses 41 países relativamente aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável identificados como os mais importantes para o bem-estar das crianças.
Na posição 18 em termos gerais, Portugal aparece quase sempre em posições de pouco destaque, sendo a posição 32 a mais baixa, no critério "erradicar a fome". Já nos critérios "saúde de qualidade" e "bem-estar", e ainda no critério "consumo e produção responsáveis" o país está em 1.º.
A posição cimeira é justificada por uma taxa de mortalidade neonatal baixa, uma taxa de suicídio de adolescentes também baixa e poucos casos de crianças entre 11 e 15 anos com problemas psicológicos.
E depois tem também das taxas mais baixas (a segunda mais baixa) de crianças que consomem álcool e uma taxa a baixar acentuadamente de casos de gravidez na adolescência.
Excesso de obesidade
De acordo com o documento, a 32.ª posição no critério "erradicar a fome e garantir uma alimentação de qualidade" indica que no país 18,2% das crianças menores de 15 anos vivem com um adulto que enfrenta insegurança alimentar. Portugal tem também a quinta taxa de obesidade infantil mais elevada.
No critério "erradicar a pobreza" o país aparece também baixo na tabela, com uma em cada quatro crianças a viver em pobreza de rendimentos relativa, diz-se no documento.
Na "produção e consumo sustentáveis" Portugal é também país de topo, sendo aquele entre os 41 em que há maior proporção de jovens de 15 anos familiarizados com pelo menos cinco ou mais problemas ambientais.
Sem liderar, o país tem também boa prestação em matérias como "igualdade do género" (6.ª percentagem mais baixa de mulheres jovens que dizem ter sofrido violência sexual), ou "cidades seguras e sustentáveis" (7.ª posição quanto à qualidade do ar).
Nem estudam, nem trabalham
Mas Portugal cai depois para meio da tabela no critério "educação", avaliadas as competências em leitura, matemática e ciências, e na promoção de um "trabalho digno e crescimento económico" (26.º lugar), com 6,1% dos jovens entre 15-19 anos que não estudam nem trabalham.
Na "redução das desigualdades" o 27.º lugar indica grandes diferenças entre os salários mais altos e mais baixos do país, e na "promoção da paz, justiça e instituições eficazes" o mesmo lugar deve-se muito a actos de violência física ou psicológica.
Portugal tem uma boa classificação (12.º lugar) quanto à taxa de suicídio de crianças (das mais baixas, 0,25 por cada 100.000 habitantes), mas a taxa dos que dizem ser alvo de bullying é a oitava mais elevada.
Em termos gerais, e sempre sobre os países mais ricos, o relatório da Unicef mostra por exemplo que uma em cada cinco crianças vive em pobreza relativa e que uma em cada oito enfrenta insegurança alimentar. Ou que mesmo em países como Japão e Finlândia cerca de um quinto dos adolescentes com 15 anos não tem níveis mínimos de competências em leitura, matemática e ciências.
A tabela é positiva para os países nórdicos, a Alemanha e a Suíça, e menos positivos para os países mais pobres do grupo, como a Roménia, a Bulgária e o Chile.
Na lista dos 41 países os Estados Unidos ocupam o lugar 37.
In “Público”