Num país vitivinícola em que o álcool é uma substância socialmente aceite, utilizada no quotidiano e onde existe um modelo de recreação centrado no consumo de álcool, não consumir bebidas alcoólicas pode ser motivo de exclusão entre pares.
Os jovens consomem bebidas alcoólicas por motivos vários, seja por prazer ou por diversão, seja para evitar mal estar emocional e psicológico, seja para lidar com situações adversas ou para aceitação familiar e social. Se perguntarmos aos jovens porque é que os jovens consomem bebidas alcoólicas com regularidade, eles referem “…consomem porque gostam (do sabor, da sensação)”, “Consomem para se divertirem… ou porque não têm outra maneira de se divertir”, outros referem também que “alguns jovens poderão beber para esquecer os problemas, para se libertarem das tensões diárias”. A aceitação social é um fator de risco preponderante para a manutenção dos consumos de bebidas alcoólicas (“Por verem os amigos a beber e também quererem apanhar bebedeiras.”; “Para se imporem e pertencerem a um grupo de pessoas”). Porém, o consumo de álcool provoca danos quer ao nível físico, psicológico e social, a curto ou a longo prazo. Afeta o processo de aprendizagem e memória, uma vez que causa danos no hipocampo, influência o controle das emoções, dado que provoca danos no córtex pré-frontal, compromete o fígado, que no adolescente ainda não funciona com plena capacidade. Pode causar impotência e infertilidade precoces, podendo haver diminuição da hormona do crescimento.
UMA PALAVRA AOS PAIS
Os primeiros consumos ocorrem na família, sendo os comportamentos dos seus elementos um dos factores de risco com maior influência para o consumo de álcool dos jovens. Apelamos desta forma aos pais, para que tenham em atenção os efeitos da modelagem e para a relevância das atitudes que apresentam face ao consumo de bebidas alcoólicas e ao impacto que essas possam vir a ter no consumo dos seus filhos. Um outro aspeto a ter em conta é o da disponibilidade financeira, a gestão do dinheiro e monitorização parental é fundamental, nas saídas à noite e grupos de amigos. Procure estar sempre informado sobre com quem o/a filho/a está, com quem saiu, se durante a noite se mantém sempre com o mesmo grupo de amigos ou se antevê alternar de grupo.
UMA PALAVRA AOS EMPRESÁRIOS
Todos sabemos que a economia na vida noturna (EVN) envolve a venda de bebidas alcoólicas. É certo que o consumo de álcool na EVN tem muitos prós (criação de capital social, o lucro das vendas), muito associado a interesses comerciais, mas acarreta custos (crimes, consumo por menores, barulho). Não são raras as vezes que alguém bebe demais numa saída e acaba no hospital, o que também acarreta custos ao nível da saúde. Cabe aos comerciantes e colaboradores de Bares, Cafés, Restaurantes e Estabelecimentos de Diversão Noturna, e aos comerciantes do ramo do Retalho e Distribuição (mercearias e supermercados) terem em atenção o cumprimento da “lei do álcool” (Decreto-Lei nº106/2015). O limite da idade mínima em Portugal para o consumo de bebidas alcoólicas prende-se com a maior vulnerabilidade física, psíquica, emocional e social dos nossos adolescentes e jovens. Seja parte da solução, e não do problema!
In “Jornal da Madeira”