Congresso de oncologia arranca nesta terça-feira em Lisboa. Utilização de manequins e simuladores na área do cancro é um dos temas em destaque.
O doente tem um cancro diagnosticado que se agravará subitamente. A equipa médica, perante esta complicação associada à doença oncológica, vai concluir que é preciso uma intervenção cirúrgica. Para já, não há mais pormenores. Sabe-se, contudo, que será operado por uma equipa de médicos internos, que vão resolver o caso ao vivo nesta semana, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Na realidade, o doente é um manequim de alta-fidelidade e os médicos vão actuar com a ajuda de um simulador – uma forma de aprendizagem cada vez mais comum em Medicina, explica ao PÚBLICO Francisca Leite, da Direção de Formação, Desenvolvimento e Inovação do Hospital da Luz e uma das organizadoras do congresso onde vai decorrer esta simulação.
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O tema da simulação em oncologia vai estar em destaque no Congresso Clínico Internacional Leaping Forward Oncology, que começa nesta terça-feira e que decorre até sábado no Centro Cultural de Belém. O encontro é organizado pelo Hospital da Luz e conta com 140 oradores estrangeiros e 40 especialistas nacionais que vão apresentar estudos e experiências em várias áreas do cancro, como pulmão, mama, gastrointestinal ou urológico. Vão também ser debatidos temas complementares, como a nutrição ou os cuidados paliativos em oncologia.
Intervenção num manequim
Francisca Leite levanta um pouco do véu e explica que a intervenção no manequim vai decorrer ao vivo e será acompanhada e comentada em directo por uma especialista em simulação em Medicina. A ideia é, além da técnica utilizada, avaliar “factores humanos, como o trabalho em equipa e a comunicação” entre os médicos que participam no painel. “Os factores comportamentais muitas vezes são tão importantes como os outros factores técnicos para os resultados clínicos”, explica a directora da área de Learning Health do Hospital da Luz, formada em Física Médica.
“A importância da simulação no treino clínico é cada vez maior. Até aqui, tudo o que se treinava em Medicina treinava-se em doentes, o que em procedimentos mais invasivos aumentava o risco”, explica Francisca Leite, acrescentando que, “com a ajuda de modelos simulados, que podem ser manequins ou programas de computador altamente realistas, os médicos aprendem mais depressa e há estudos que já mostram que depois têm melhores resultados”. A propósito dos estudos, a especialista frisa que depois de treinarem bem a parte técnica, os médicos acabam por ficar mais seguros e com “maior capacidade de tomar decisões, trabalhar em equipa, comunicar e resistir ao stress em casos reais”.
No congresso, adianta Francisca Leite, vão existir também outros painéis dedicados à simulação, uma metodologia muito utilizada na aviação e que se tem expandido para outros sectores. Um dos painéis conta com Gemma Fisher, da equipa de Fórmula 1 da Williams, que vai fazer um paralelismo entre a forma como actuam nas pit stop e o que pode ser melhorado nas actuações médicas de emergência – com um projecto que já implementaram em unidades de neonatologia no Reino Unido.
Vai ser também apresentado, pela primeira vez na Península Ibérica, o simulador NeuroVR, que será utilizado por dois neurocirurgiões. O equipamento destina-se ao treino na área da neurocirurgia e permite uma espécie de viagem virtual pelo interior do cérebro. Os médicos acompanham através de um visor o que estaria a acontecer se a cirurgia fosse real, com o aparelho a ser capaz de transmitir sensações como a pressão que é feita para entrar no crânio. Além destes simuladores, vão também ser apresentadas algumas das utilizações de robots, já usados em Portugal, que operam mediante o comando de um médico e que permitem fazer intervenções em casos mais delicados.
In “Público”