O sucesso da vacinação e o declínio da mortalidade infantil em Portugal são um modelo a seguir na Europa.

 

As vacinas são uma das mais importantes intervenções de saúde pública do último século. Depois do abastecimento de água potável, a vacinação contra doenças infecciosas fatais é a forma mais custo-efectiva de proteger a população e é fundamental ser feita ao longo da vida.

 

Devido à vacinação, a varíola foi erradicada do mundo em 1980, a poliomielite está considerada eliminada da Europa e na grande maioria dos países; em Portugal, o último caso foi em Dezembro de 1986 [1].

 

Os programas de vacinação têm um impacto significativo na redução da mortalidade e morbilidade, prevenindo duas a três milhões de mortes por ano em todo mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) [2]. Em Portugal, nos últimos 20 anos, as taxas de mortalidade infantil diminuíram significativamente, enquanto as de vacinação aumentaram consideravelmente, numa associação direta. O sucesso da vacinação e o declínio da mortalidade infantil em Portugal são um modelo a seguir na Europa, pois Portugal mantém uma das mais elevadas coberturas vacinais na infância [3].

 

Podemos orgulhar-nos de ter as nossas crianças protegidas contra 12 doenças infecciosas, com as vacinas incluídas no Programa Nacional de Vacinação (PNV). Contudo, ainda surgem casos de tosse convulsa em bebés, situação que poderá ser alterada com a recente recomendação da vacinação das grávidas, que assim protege os bebés recém-nascidos, altura em que são mais vulneráveis, até poderem ser vacinados aos dois meses.

 

O novo PNV evoluiu para assegurar as escolhas mais adequadas para a população. Um caso paradigmático é a inclusão da vacina hexavalente pediátrica, que combina a prevenção de seis doenças numa só vacina, reduzindo o número de picadas nos bebés. Apesar destes avanços, ainda temos um caminho a percorrer. Globalmente, estão a surgir em crianças casos de doenças praticamente eliminadas, nomeadamente em Portugal, e a vacinação do adulto nem sempre é efetuada (tétano, viajantes, gripe…). Como exemplo temos os recentes casos de Hepatite A e o excesso de mortalidade associado à gripe, que se verifica todos os anos, lembra-nos que as vacinas são fundamentais para a prevenção da doença ao longo da vida. No caso da gripe, a taxa de vacinação de 75% preconizada pela OMS, para pessoas com 65 ou mais anos, ainda está longe de ser atingida.

 

Estima-se que em 2060 o custo com cuidados de saúde para a população de 65 anos ou mais anos venha a duplicar. As vacinas, além de melhorarem inquestionavelmente os indicadores de saúde, trazem poupanças ao sistema de saúde. Uma população imunizada adoece menos, reduzindo o número de internamentos, complicações associadas e urgências. Adicionalmente, estudos recentes evidenciam o impacto das vacinas na redução da resistência aos antibióticos; no caso da gripe, a redução pode chegar aos 64% na população vacinada [4].

 

Sabemos hoje que na Europa, a área da prevenção representa apenas 4% do total do orçamento da saúde e a vacinação menos de 0,5% [5], quando prevenir a doença em todas as faixas etárias é crucial para manter a população ativa e saudável ao longo de toda a vida.

 

A semana de 24 a 30 de Abril, reconhecida pela OMS como a Semana Europeia da Imunização, este ano é dedicada ao tema Vaccines Work. Esta semana é mais uma chamada de atenção para o trabalho que ainda é necessário desenvolver para que ninguém sofra ou morra de uma doença prevenível pela vacinação. Ao apoiar esta iniciativa, pretendemos ajudar a criar parcerias com todas as entidades: profissionais de saúde, autoridades de saúde, produtores de vacinas e sociedade em geral, num call to action contra todas as doenças preveníveis através da vacinação, ao longo da vida. O mote desta campanha não deve ficar apenas confinado a esta semana mas antes ser um foco contínuo de investimento em termos de saúde pública.

 

 [1] DGS: Programa Nacional de Erradicação da Poliomielite – Plano de Ação Pós-Eliminação, Novembro 2013

 

 [2] http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs378/en/, acedido dia 12/04/2017

 

 [3] http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs378/en/, acedido dia 12/04/2017, e https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/boletim-vacinacao-n-10-abril-de-2016-pdf.aspx

 

 [4] Antonova et al., Burden of paediatric influenza in Western Europe: a systematic review, BMC Public Health 2012, 12:968

 

 [5] http://dx.doi.org/10.1080/21645515.2016.1155013

 

Sylvia Lin

 

Directora-geral da Sanofi Pasteur Portugal

 

In “Público”