O enfermeiro José Marques, vice-presidente da Associação de Dadores de Sangue da RAM, acompanhado da médica e também sócia-fundadora Joana Lucas.
A Associação de Dadores de Sangue da Região Autónoma da Madeira (ADS-RAM) comemorou ontem um ano de existência. O vice-presidente, o enfermeiro José
Marques, falou ao DIÁRIO sobre a actualidade da associação e sobre a temática da dádiva de sangue na Região.
Porque razão nasce a Associação de Dadores de Sangue da Madeira? Há duas razões que nos levaram a criar a associação. Por um lado, o Serviço de Sangue e Medicina Transfusional do Hospital Dr. Nélio Mendonça viu necessidade de envolver e de se abrir mais à sociedade civil, porque se as pessoas tiverem conhecimento e se forem superados os tabus e os medos, certamente aderem mais ao nosso serviço. É importante que a sociedade civil se aperceba da necessidade da doação de sangue e daquilo que fazemos no serviço. Por isto mesmo, temos algumas visitas de estudo de alunos de escolas. A outra razão foi porque havia entre os dadores a vontade de se associar e, desse modo, viver a sua forma de solidariedade em associação. Esta associação tem dois objectivos primordiais, o primeiro incentivar a dádiva de sangue e assim contribuirmos para a continuação de uma auto-suficiência como se pretende. Depois pretendemos a promoção da saúde, incentivando aos hábitos de vida saudável, a todas as pessoas de um modo geral mas sobretudo aos jovens, porque são eles os mais susceptíveis a desvios e porque também apostamos neles como continuidade para a dádiva de sangue, porque é necessário fazer uma substituição evolutiva, mas natural entre os dadores.
Ao fim deste primeiro ano de actividade da associação sente-se já efeitos práticos em termos de adesão à dádiva de sangue? Sentimos já uma diferença, o saldo é positivo. Todos os dias temos dadores de primeiro vez, muitos deles jovens. Isto é sinal de que a nossa mensagem está a passar. No entanto, como estamos a falar de jovens, estamos sobretudo a trabalhar em termos futuros. Pretendemos que os resultados se tornem visíveis ao longo do tempo.
Os protocolos mantidos com várias instituições, nomeadamente escolas, fazem parte desse projecto? Sem dúvida. Temos feito alguns protocolos com escolas, associações e isso é uma forma que encontramos de chegar mais próximo das pessoas, sobretudo dos jovens. Temos estados em diversas instituições, com palestras e conferências, já estivemos em Machico, Santa Cruz, Câmara de Lobos, na Escola Francisco Franco com o projecto Banco de Afetos, em alguns agrupamentos de escuteiros, em centros cívicos. Usamos também as redes sociais, como é usual hoje em dia, para divulgar o nosso projecto, mas para além disso apostamos na parte lúdica, nomeadamente nas caminhadas, passeios a pé e passeios de barco, tudo formas de passar a nossa mensagem. Entretanto, na próxima sexta-feira, para comemorar o nosso 1.º aniversário, teremos um jantar pelas 19h30 no Restaurante Encumeada, onde vamos tentar reunir o maior número de dadores e também outras pessoas que queiram participar. No domingo, teremos uma aula de zumba na placa central da Avenida Arriaga, que será mais uma forma de nos chegarmos às pessoas.
Quantos sócios já tem a ADS-RAM? Temos já algumas dezenas de sócios, embora isso não seja propriamente uma prioridade. Nós pretendemos criar laços estratégicos, para que possamos fazer chegar a nossa mensagem. Nesse aspecto, os dadores são fundamentais. De qualquer modo, todos os dadores de sangue são bem-vindos à nossa associação, desde que cumpram os estatutos.
Quais as condições para se dar sangue? Qualquer pessoa entre os 18 e os 60 anos pode dar sangue. Desde que sejam pessoas saudáveis, com espírito solidário, com mais de 50 quilos, podem fazê-lo. Mas antes nós fazemos uma consulta de enfermagem e uma consulta médica e aí é feita uma avaliação sobre se a pessoa pode ou não dar sangue.
Acha que os madeirenses são sensíveis à causa da dádiva de sangue? Os madeirenses são solidários em todos os aspectos e na dádiva de sangue também é assim. Noto que há dadores que o são há muitos anos e que continuam a fazê-lo como muito gosto. Há outros que estão a começar e isso é importante porque é preciso fazer-se a tal substituição evolutiva. Os dadores só podem dar sangue até aos 65 anos, por isso mesmo precisamos de pessoas mais novas. Além disso, há outros aspectos pontuais que levam a que as pessoas deixem de dar sangue.
Sente essa sensibilidade por parte dos jovens? Sem dúvida. Como já disse, todos os dias temos jovens a dar sangue pela primeira vez. Por vezes, temos até grupos que se deslocam para dar sangue. Mas nunca são de mais, até porque neste momento a Madeira é auto-suficiente em termos de sangue mas temos de estar preparados para uma qualquer eventualidade. Isso leva-nos a estar neste trabalho contínuo.
A associação funciona no próprio Serviço de Sangue e Medicina Transfusional. Há perspectivas de terem o seu próprio espaço físico? Ter o nosso espaço físico será uma mais-valia. Estamos em contacto com as entidades competentes, será, com certeza, possível de concretizar, mas também sabemos das dificuldades que existem actualmente. É algo importante, estamos a trabalhar no assunto, mas tudo a seu tempo.
NÉLIO GOMES
In “Diário de Notícias”