Médica responsável por Consulta de Cessação Tabágica acha que mudança está no «bom senso»

 

A médica Ermelinda Alves considera que a proibição de fumar ao ar livre, inclusive nas praias, não é exequível.

Fumar na praia pode ter os dias contados. Ou não. Embora valorize a intenção, expressa, recentemente, pela Comissão Europeia, a médica responsável pela Consulta de Cessação Tabágica do Centro de Saúde do Bom Jesus, Ermelinda Alves, considera que não é exequível e acredita que a mudança de comportamentos, neste caso, é mais uma questão de bom senso.

 

O comissário europeu da Saúde e Segurança Alimentar, Vytenis Andriukaitis, declarou, no passado dia 23 de março, serem necessárias mudanças reais no terreno para combater o tabagismo, insistindo na redução do consumo de tabaco nos espaços públicos, ainda que ao ar livre. Praias e recintos desportivos estão na mira.

 

«Foi bom proibirem o tabaco nos locais públicos, mas aqui, na rua, ao ar livre, é mais complicado. Se é possível controlar isso? Não, não acho possível», diz a médica ao JM.

 

De acordo com Ermelinda Alves, atualmente, mesmo com todas as medidas e alertas, em sítios particulares como em casa, durante convívios, ou no carro, há quem não evite o tabaco. «Deviam senti-lo como um dever, pensando nas pessoas com quem lidam», diz.

 

Neste caso, a especialista adianta que «o bom senso manda» que, se houver um amontoado de pessoas numa praia, os consumidores se «distanciem» ou «passem para um sítio onde há menos pessoas», evitando «mandar monóxido de carbono e outras substâncias tóxicas para cima das restantes».

 

Na Madeira, a percentagem de homens e mulheres que procuram a Consulta de Cessação Tabágica é «mais ou menos igual», sendo a maioria adulta. Quanto aos jovens, «a taxa de sucesso é menor, porque saem à noite, bebem e depois voltam a consumir tabaco», explica a especialista.

 

 Ermelinda Alves lamentou ainda a «pouca oferta» que há, no arquipélago, deste tipo de acompanhamento.

 

«No norte da ilha ou no Porto Santo, por exemplo, as pessoas que queiram deixar de fumar têm que se dirigir ao Funchal», ilustrou.

 

«IMPOSSÍVEL NÃO INCOMODAR QUEM ESTÁ PERTO»

 

 Ricardo Barbedo considera que proibir o consumo de tabaco nas praias é «boa notícia». «O tabaco tem dois males. Primeiro, é impossível o fumo não incomodar quem está perto, e depois é a questão do lixo, porque as pessoas que fumam não têm o civismo necessário para levar o lixo e, muitas vezes, é só cigarros nas praias», diz o jovem, que não fuma.

 

«AS PESSOAS NÃO VÃO LIGAR E VÃO FUMAR À MESMA»

 

Pedro Gonçalves observa que, mesmo que a proibição se venha a concretizar, «as pessoas não vão ligar e vão acabar por fumar à mesma», ainda que «às escondidas». Na opinião do fumador, as praias deviam antes ter mais cinzeiros, admitindo que ele próprio tem cuidados.

 

Banhistas estão mais preocupados em manter espaço limpo

 

Praia Formosa teve «a maior evolução»

 

A Praia Formosa é a praia do Funchal que revela «a maior evolução» no que diz respeito à limpeza. A observação é do administrador da empresa municipal Frente Mar Funchal, que enaltece a mudança de comportamento dos banhistas – incluindo fumadores.

 

«Desde que nós disponibilizamos caixotes do lixo e colocamos pessoal a limpar durante todo o ano, é curiosa a maneira como os cidadãos reagiram e começaram, também, a ter outra consciência», comenta Carlos Jardim com o JM, a propósito do plano da Comissão Europeia de proibir o consumo de tabaco nas praias, adiantando que há cerca de 12 pessoas destinadas à limpeza dos complexos balneares da Barreirinha, Ponta Gorda, Lido, Praia do Gorgulho e Praia Formosa.

 

Para os fumadores em particular, o responsável lembra que a empresa disponibiliza latas nos seus espaços «há muitos anos».

 

Embora a Madeira tenha poucas praias de areia, Carlos Jardim reconhece que os trabalhos de limpeza e recolha de beatas, nesses casos, é um «problema maior», admitindo compreender a insistência de Bruxelas sobre o tabaco.

 

Por outro lado, salienta, «é importante continuar a sensibilizar as pessoas para manterem as praias limpas», uma vez que não estão, ainda, livres de «descuidos».

 

 Tânia R. Nascimento

 

Fonte: Jornal da Madeira