Por ocasião do Dia Nacional do Doente com AVC, que se assinala amanhã, 31 de março, o Núcleo de Estudos de Doença Vascular Cerebral (NEDVC) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) lembra que há um reconhecimento crescente da importância do género no prognóstico do AVC: a mulher tem um risco de AVC ao longo da vida superior ao do homem. (FRAMNGHAM) e há mais mulheres com Doença Vascular Cerebral devido à sua maior longevidade.
Maria Teresa Cardoso, coordenadora do NEDVC, sublinha cinco particularidades sobre o AVC na mulher:
1) A mulher tem um pior prognóstico em termos funcionais relativamente ao homem e tem também menor qualidade de vida após um AVC. A causa desta diferença não está bem estabelecida mas o que é conhecido é que as mulheres têm mais probabilidade de viverem sós e enviuvar antes do AVC e de serem institucionalizadas após o AVC, tendo uma pior recuperação relativamente aos homens.
2) A mulher é geralmente mais idosa, funcionalmente mais dependente e tem AVC mais graves. A mulher tem mais arritmias (fibrilhação auricular) o que lhe condiciona mais eventos tromboembólicos implicados em AVC mais graves. Tem também mais hipertensão e o risco de AVC por diabetes é também mais elevado relativamente ao homem. O mito da proteção hormonal não tem qualquer sentido na mulher após a menopausa.
3) Têm sido apontados vários fatores de risco específicos do género feminino como a anticonceção oral, a hipertensão na gravidez, o parto pré termo, abortos espontâneos, idade da menopausa e a ooforectomia. No entanto, discute-se se estes fatores de risco específicos influenciam o prognóstico do AVC na mulher.
4) O uso de anticoncetivos orais causa um pequeno aumento do risco de AVC especialmente na mulher com outros fatores de risco vascular como tabagismo, hipertensão, diabetes, obesidade e aumento do colesterol, embora o risco de AVC seja muito baixo na faixa etária que os usa. Em termos práticos é aconselhado e muito importante o tratamento agressivo dos fatores de risco vascular em mulheres a fazer contraceção oral e aconselhada uma medição da pressão arterial antes de iniciar anticoncepção oral.
5) Quanto à menopausa, discute-se se há influência da idade de início da menopausa no risco de AVC. Há estudos que sugerem que mulheres com menopausa antes dos 40 anos tem maior risco de AVC. O que é importante saber é que o tratamento hormonal após menopausa não reduz o risco de AVC podendo mesmo pelo contrário aumentá-lo, portanto a hormonoterapia após menopausa não está recomendada.
A coordenadora do NEDVC explica que “um estudo recente (VISTA) avaliou diferenças específicas de género no prognóstico do AVC, tendo constatado prognósticos semelhantes para os dois sexos. No estudo, o tratamento trombolítico e os cuidados do AVC agudo em Unidades de AVC garantem um prognóstico ótimo, independentemente dos fatores de risco específicos de género”. A especialista lembra ainda que “o prognóstico após AVC é inevitavelmente influenciado pela qualidade de tratamento e pelas condições sociais. Em países com acentuadas desigualdades entre géneros, o prognóstico é mais reservado nas mulheres, estando associado a um menor acesso aos cuidados de saúde, com menor acesso a trombólise e a Unidades de AVC. Estes resultados reforçam a importância da implementação difusa de Unidades de AVC para melhorar o seu prognóstico”.
Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
Fonte: Jornal da Madeira