Registou-se um aumento de cerca de 65% num período de quase dez anos. Os dados constam do Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes.
O número de casos de diabetes entre as mulheres grávidas não tem parado de aumentar. Em 2006 tinham sido registados 2987 e em 2015 o valor subiu para 4847, o que corresponde a um aumento de cerca de 65% num período de quase dez anos. Os valores preocupam tanto o director do Observatório Nacional da Diabetes como o presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, pelas implicações na saúde das mulheres e dos bebés.
De acordo com os dados do Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes, divulgado nesta quarta-feira, em 2015, a prevalência de diabetes gestacional em Portugal foi de 7,2%, quando em 2006 era de 3,4%.
Um quarto das pessoas que morrem nos hospitais têm diabetes
O presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, Rui Duarte, destaca que esta subida acompanha os “preocupantes dados nacionais” sobre a doença e acrescenta que também se explicam pelo aumento da idade média da maternidade.
O próprio relatório sublinha, aliás, que “a prevalência da diabetes gestacional aumenta com a idade das parturientes, atingindo os 15,9% nas mulheres com idade superior a 40 anos”.
Nos dados apurados, há uma correspondência directa entre a doença e a idade. Nas mães até aos 20 anos a prevalência da diabetes gestacional ficou-se pelos 1,9%. Entre os 20 e os 29 anos o valor sobe para 4,6% e dispara para 8,4% entre os 30 e os 39 anos.
“A diabetes é um problema de saúde pública e tem de ser tornada uma prioridade. No caso da diabetes gestacional é de ressalvar que o aumento do número de casos também pode corresponder a um melhor diagnóstico”, ressalva Rui Duarte, que lembra que recentemente os critérios foram alterados, não sendo necessário um valor de glicemia tão elevado para se considerar que a grávida tem diabetes.
Diabetes nas grávidas quase duplicou num período de cinco anos
O director do Observatório Nacional da Diabetes, Luís Gardete Correia, sublinha, por outro lado, que muitas mulheres engravidam sem saberem que já tinham pré-diabetes, “o que aumenta todo o risco de virem a desenvolver diabetes gestacional”.
Depois do parto, regra geral, a doença desaparece. Mas os dois especialistas explicam que uma mulher que tenha a doença durante a gravidez fica com um risco muito acrescido de voltar a ter no futuro. As estatísticas indicam que só 1% a 2% das mulheres continuam diabéticas após o parto. No entanto, todas as outras têm um risco 50% superior de virem a ser diabéticas.
Quanto a consequências da diabetes gestacional, o primeiro passo, segundo os especialistas, é controlar a alimentação das mulheres, que costumam ser encaminhadas para as consultas de alto risco.
Ainda assim, dados do Registo Nacional da Diabetes Gestacional, apresentados em 2014, mostravam que em 40% dos casos as mulheres tiveram mesmo de recorrer à ajuda de insulina para conseguir controlar a glicemia. “O trabalho em equipas multidisciplinares é fundamental, tanto nas grávidas como nos outros doentes. Mas isso nem sempre é possível”, lamenta Rui Duarte.
Para os bebés, os dados do mesmo registo salientavam que, apesar das gravidezes terem tido uma duração em linha com a média nacional, as grávidas com diabetes viram o parto terminar em cesariana de forma muito mais frequente. Foi também comum que os bebés nascessem com um peso demasiado elevado, acima dos quatro quilos, que é uma das consequências mais comuns das gestações com diabetes.
Para os bebés, os dados do mesmo registo salientavam que, apesar das gravidezes terem tido uma duração em linha com a média nacional, as grávidas com diabetes viram o parto terminar em cesariana de forma muito mais frequente. Foi também comum que os bebés nascessem com um peso demasiado elevado, acima dos quatro quilos, que é uma das consequências mais comuns das gestações com diabetes.
Além das grávidas, o relatório do Observatório Nacional da Diabetes alerta para a subida de casos de doença num outro grupo: o dos jovens. Rui Duarte adianta que nos mais novos a diabetes mais comum é a tipo 1, menos ligada aos estilos de vida. Mesmo assim, indica que começam a surgir mais casos de diabetes tipo 2 nesta população, pelo que Gardete Correia insiste na importância de desenvolver mais programas dirigidos às camadas mais jovens da população e às escolas.
Romana Borja-Santos
Fonte: Público