Cerca de 16.000 toxicodependentes tomam diariamente metadona nos centros de tratamento nacionais e mais 2500 em outros locais, no âmbito da política de redução de danos que está em vigor em Portugal, disse à Lusa o director-geral do SICAD.
Em entrevista à agência Lusa, o director-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), João Goulão, enalteceu o facto de o sistema português permitir o regresso a estes programas de dependentes que entretanto voltaram a consumir drogas.
“Temos a felicidade de ter um sistema de tratamento que tem um leque bastante vasto de opções, desde as terapêuticas de substituição, com metadona, até a possibilidade de uma desabituação física”, disse.
Segundo João Goulão, são duas as vias: “Ou paramos completamente o consumo do opiáceo e depois o trajeto é apenas o acompanhamento em ambulatório com psicoterapia, com ou sem algum suporte medicamentoso, ou então transferimos esta dependência de um opiáceo de rua [como a heroína], para um medicamento usado sob supervisão médica, com uma dose ajustada e que evita a síndrome da privação, activa por via oral e que deixa as pessoas perfeitamente funcionais e a produzir e a ter uma vida perfeitamente integrada”.
“Há uma percentagem muito significativa de pessoas que fazem um trajecto bastante longo de substituição opiácea, seja com metadona ou buprenorfina [medicamentos opióides de síntese] e que de acordo com o seu terapeuta decidem libertar-se também desta dependência e fazem então uma desabituação física, da metadona, por exemplo. É frequente”, adiantou.
Para o director-geral do SICAD, “quando as pessoas sentem dentro de si a força para o fazer ensaiam-no muitas vezes, algumas são bem-sucedidas, outras voltam a sentir o tal craving [um desejo intenso por uma substância] e voltam outra vez a ser admitidas”.
“Há sistemas, nomeadamente os nórdicos, em que as coisas são formatadas de uma forma muito rígida. Temos uma atitude de muito maior flexibilidade e de aceitação e de inclusão das pessoas nestes programas, se as coisas não correrem bem”, sublinhou.
Os centros de tratamento distribuem diariamente metadona a 15.000 ou 16.000 toxicodependentes. Além destes, entre 2000 e 2500 fazem esta terapia de substituição em outros locais.
Só em Lisboa, existem entre 1200 e 1400 pessoas que fazem diariamente a sua toma de metadona em carrinhas que param em pontos específicos - os chamados programas de baixo linear de exigência.
“Não os rotulamos de programas terapêuticos, são programas em que a exigência de abstinência não é total, diferentemente dos programas de tratamento, mas são programas de redução de danos”, especificou.
Fonte: Público