As dores de cabeça ou cefaleias dividem-se em: primárias e secundárias. No caso das dores de cabeça primárias, enxaquecas e cefaleias do tipo tensional, são o problema em si e não um sintoma de outra doença.

 

 

Para identificar o padrão e a gravidade da cefaleia, basta a história clinica do doente, sendo fundamental o rigor na descrição dos sintomas: idade em que apareceu, intensidade, localização, frequência, fatores potenciadores, vómitos ou alterações visuais.

 

ENXAQUECAS

 

O diagnóstico da enxaqueca é clínico, não há testes laboratoriais ou marcadores que o confirmem. Os sintomas clássicos compreendem dores recorrentes de caráter pulsátil, como se o coração batesse dentro da cabeça na região frontal ou temporal, só num dos lados, por cima de um dos olhos acompanhadas de vómitos, fobia à luz, ao som e aos cheiros, agravando com esforço físico e movimentos da cabeça. Um episódio dura poucas horas até 3 dias e entre as crises, não há queixas.

 

Salientam-se como fatores desencadeantes o stresse, período menstrual, bruscas amplitudes térmicas, álcool, queijo, chocolate, citrinos, luz, cheiros, ruídos e jejuns muito prolongados. Este tipo de dor surge tanto em crianças, como jovens e adultos de ambos os sexos.

 

O início de um episódio varia de doente para doente, e de um episódio para outro, podendo surgir a qualquer hora do dia ou durante o sono, desenvolvendose e progredindo lentamente ao longo do dia. Muitos doentes sofrem alterações psicológicas durante as crises, que podem ir de um estado depressivo à hostilidade, a diminuição da concentração, da memória e do pensamento abstrato, também podem ocorrer.

 

TRATAMENTO

 

A automedicação não se recomenda e o abuso de medicamentos deve ser evitado, prevenindo assim as cefaleias crónicas. Em relação aos hábitos alimentares, o consumo de bebidas e comidas promotoras das crises está proibido. Técnicas de relaxamento e psicoterapia são uma opção nas crises provocadas pelo stress, regras no sono evitando a privação ou o excesso, são também indicadas.

 

O tratamento sintomático espera-se que seja de ação rápida, sem efeitos secundário e bem tolerado. Nas crises leves a moderadas, os analgésicos usados são o paracetamol, o ácido acetilsalicílico, o acetilsalicilato de lisina ou qualquer um dos anti-inflamatórios não esteroides, a escolha depende da idade e da patologia acompanhante, no caso das crianças até 15 anos recomenda-se o paracetamol. Se os vómitos são uma queixa limitante a opção é um antiemético.

 

CEFALEIAS TIPO TENSIONAL

 

São dores de intensidade leve a moderada em toda a cabeça, semelhante a ter um capacete apertado, acompanhadas por dores musculares no crânio, pescoço e ombros, vão piorando ao longo do dia, não se agravam com o movimento nem com o esforço, não há vómitos mas pode haver fobia á luz e ao ruido. Estão associadas a fatores de stress, ansiedade e sono de má qualidade e podem durar de 30 minutos a semanas, não são incapacitantes e não requerem consulta médica especializada.

 

TRATAMENTO

 

É essencial a partilha com o clinico, das opções terapêuticas, a fim de evitar a automedicação e o abuso de fármacos, implementar medidas não farmacológicas tais como: repor sono em falta, realizar exercício físico e relaxamento, corrigir más posturas no local de trabalho, usando mesas, secretárias e assentos adequados. A fisioterapia está indicada quando coexistam perturbações osteoarticulares ou músculo-esqueléticas ou o tratamento ortodôntico, quando se justifique, já as consultas psicotécnicas são indicadas na depressão, ansiedade e stress.

 

No tratamento sintomático os analgésicos simples e os anti-inflamatórios não esteroides estão indicados na fase aguda sendo desaconselhado o seu uso regular e crónico, ou seja mais de 2 vezes por semana e as associações farmacológicas. É de referir que as cefaleias por abuso de analgésicos são actualmente definidas pelo número de dias por mês, mais de 15 em que há consumo de analgésicos. Sempre que o número de episódios agudos ultrapasse 15 dias por mês deve ponderar-se um tratamento preventivo, para evitar abuso de analgésicos. Os relaxantes musculares, os antidepressivos e os calmantes podem ser uma opção, nestes casos. No tratamento em crise, o doente deve ser medicado para aliviar o desconforto, mas se a dor tiver recorrência frequente, devera ser instituído um tratamento preventivo.

 

É preocupante quando o padrão e a intensidade da dor antiga muda ou quando se somam outros sintomas, como é o caso das cefaleias explosivas”, súbitas e com forte intensidade, que antes melhoravam com analgésicos e agora não, cefaleias noturnas que interrompem o sono, são sinais de problemas mais graves, pois por de trás podem estar a acontecer episódios neurológicos graves. Em suma, as cefaleias são doenças reais e incapacitantes, em que a prevenção depende sempre do doente e é a melhor opção. JM

 

DRA. ANTÓNIA PEREIRA

 

Farmacêutico na Farmácia do Caniço

 

 

 

Fonte: Jornal da Madeira