Em Portugal, registam-se, por ano, cerca de 1.500 casos novos de cancro oral, dos quais cerca de 1.250 em homens e de 250 em mulheres.
Fumadores e consumidores de grandes quantidades de álcool aumentam a probabilidade de desenvolver cancro oral.
Cerca de 75% dos doentes com cancro fuma «A utilização de tabaco nas suas variadas formas é considerada a principal causa do cancro oral, particularmente associada ao consumo imoderado de álcool», pode ler-se no guia do Projeto de Intervenção Precoce no Cancro Oral para profissionais de saúde.
Este documento refere mesmo que «o risco de cancro oral é cinco a nove vezes maior em fumadores do que em não fumadores» e que «a percentagem de doentes com cancro oral que fuma (cerca de 75%) é 2/3 vezes maior do que a da população em geral».
Por outro lado, e como alertou Paulo Melo, «o álcool é também um importante fator de risco para os cancros do aparelho digestivo superior. Em fumadores, o consumo moderado/elevado de álcool aumenta entre três a nove vezes o risco de desenvolver um cancro da cavidade oral, mostrando um efeito sinérgico entre estes dois fatores».
Um estudo realizado em França mostra que fumadores e consumidores de grandes quantidades de álcool têm uma probabilidade 30 a 100 vezes maior de desenvolver cancro oral e da orofaringe (uma parte da faringe).
O cancro oral é dos cancros com maior taxa de mortalidade em Portugal, essencialmente devido a dois problemas: «muitas vezes, as lesões são identificadas muito tarde, e, por outro lado, os pacientes demoram tempo demais a serem intervencionados».
Isso mesmo afirmou ao JM Paulo Melo, representante da Ordem dos Médicos Dentistas no Projeto de Intervenção Precoce no Cancro Oral, que apontou que esta patologia atinge entre quatro a 10% da população portuguesa, surgindo mais frequentemente no sexo masculino.
Em Portugal, registam-se, por ano, cerca de 1.500 casos novos de cancro oral, dos quais cerca de 1.250 em homens e de 250 em mulheres.
Na Madeira, o presidente da Delegação Regional da Ordem indica que sabem «que, em 2011, houve dados que apontavam para uma redução de 15%, mas, no site do Instituto Nacional de Estatística, só temos registos dos óbitos, não dos casos diagnosticados», frisou.
E apesar de todos os avanços no tratamento, as taxas de mortalidade chegam aos 50%, daí ser crucial a identificação de lesões o mais precocemente possível.
Dessa forma, o programa, que está a ser implementado há dois anos em Portugal, conseguiu que, «a partir do momento em que a pessoa tem alguma lesão suspeita até ser enviada ao hospital, passe, em média, entre 10 a 15 dias», numa redução significativa do tempo de espera que se verificava anteriormente. O sucesso do projeto passa também pela interdisciplinaridade do processo, sublinhou Paulo Melo, já que integra «vários médicos, de várias áreas, e todos eles têm o seu papel preponderante nisto».
Médicos de família, dentistas, médicos de outras especialidades e até a equipa que faz a análise das biopsias, todos devem estar em alerta «e ser eficazes e rápidos na resposta». Sinais de alerta
O representante dos dentistas no Projeto de Intervenção Precoce no Cancro Oral indica que os médicos devem estar atentos a algumas questões importantes nos seus pacientes: «excesso de álcool e excesso de tabaco. As duas coisas juntas são muitíssimo mais graves e depois traumatismos – os dentes bicudos que estão a fazer lesões permanentemente».
Mais realçou que, «associado a isso, se o paciente tiver infeções recorrentes, várias vezes, e mau cuidado em higiene oral, tudo isso vai dar origem a que tenha maior risco de cancro oral», observou.
Por outro lado, referiu também que os profissionais de saúde devem estar igualmente focados em «lesões suspeitas, feridas e aftas que demoram vários dias a cicatrizar».
Dessa forma, e neste tipo de cancro, o guia para profissionais de saúde do Projeto de Intervenção Precoce no Cancro Oral aconselha o «rastreio oportunista dos utentes que tenham idade igual ou superior a 40 anos, especialmente se forem do sexo masculino, fumadores e consumidores imoderados de álcool».
Sofia Lacerda
Fonte: Jornal da Madeira