Vieram recentemente a público, notícias relacionadas com indisciplina nas salas de aula das escolas portuguesas. O 2º Estudo Sobre Indisciplina em Portugal, realizado no ano letivo 2015/2016 revela que houve mais de 11 mil participações disciplinares em 5,4% dos agrupamentos escolares.
Alexandre Henriques, autor do estudo, analisou as ocorrências de indisciplina em cerca de 45 agrupamentos e escolas (incluindo uma escola da Madeira) abrangendo 54 mil alunos. Concluiu que, comparativamente ao ano 2014/2015, aumentou o número de participações disciplinares. Também aumentou o número de estudantes alvo de sanções ou medidas corretivas (ordem de saída da sala de aula ou a mudança de turma).
QUE SOLUÇÕES PROCURAR?
Convém tentar compreender o que se está a passar nesta situação e que respostas procurar. Porque ocorrem estes comportamentos e de que forma podem ser atalhados e minorados? Alexandre Henriques, aponta uma resposta dirigida em três frentes, implicando na solução o bom funcionamento da família, da escola e do aluno.
Ninguém substitui a família no papel crucial de dar afeto, de dar as regras e limites, de dar a orientação e princípios básicos de educação dos filhos. Deixá-los andar em total liberdade é uma má solução. A estruturação do cérebro e da aprendizagem carece de um sistema de valores e regras para ajudar a transformar os impulsos em comportamentos assertivos, adequados ao contexto. Não esperar nada. Não partilhar objetivos face a resultados escolares. Não querer saber a partir de que idades podem sair à noite, com quem saem, onde estão e o que consomem parece-me desastroso para o crescimento dos jovens. A fórmula oposta também é uma má estratégia. Ocorre-me a antiga metáfora das margens do rio: se forem demasiado estreitas, o rio será turbulento, apertado, inconformado, extravasando o leito de modo caótico e descontrolado ao mínimo aumento do seu caudal, em contrapartida, se as margens forem demasiado largas e sem nenhum leito, o rio perder-se-á e jamais chegará à foz.
O segundo vértice do triângulo corresponde à escola a quem é apontada a necessidade de “ser coesa”, de ter a direcção e os professores a trabalhar juntos, visando melhorar o ambiente da escola. Estratégias como a simplificação do estatuto relativamente às medidas disciplinares, capacitação dos professores para a gestão de conflitos, diminuição do número de horas de aulas, redução do tamanho das turmas e maior investimento na formação cívica dos alunos, são algumas das propostas apresentadas pelo autor do estudo.
E em terceiro e último lugar temos o aluno, cujo papel é muitas vezes esquecido neste processo. Conhecemos situações em que os pais e os professores se empenham muito, e que, no entanto, não se atinge o objectivo de sucesso porque a vontade de estar na sala de aula e a motivação para estudar é quase nula.
Este é um tema que nos deve fazer refletir face à mudança que é urgente fazer. Se cada uma das partes der o melhor de si, teremos, com certeza, mais disciplina nas nossas escolas e jovens/cidadãos mais integrados
IDALINA SAMPAIO
Socióloga Unidade de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências IASAÚDE, IP-RAM
Fonte: Jornal da Madeira