A OMS estima que, para um país de 10 milhões de habitantes onde metade da população é fisicamente inactiva, o custo anual da inactividade física é cerca de 900 milhões de euros. A aplicar-se a Portugal seria um valor considerável, equivalente a 9% do orçamento do Ministério da Saúde para 2017

Quando se discute a saúde de uma população, poucas matérias são tão consensuais como o combate às doenças não-transmissíveis, também chamadas ‘doenças crónicas’, tais como a diabetes, a depressão, as doenças cérebro-cardiovasculares, oncológicas e respiratórias. No seu conjunto, são responsáveis por uma fatia considerável dos custos de saúde, incluindo custos directos (ex., internamentos, medicamentos, cirurgias) e indirectos (ex., perdas de produtividade devido a doença ou morte prematura). A inactividade física é um importante factor de risco para o desenvolvimento destas doenças e estão disponíveis desde 2016 estimativas para os seus custos a nível mundial.

 

Há dois aspectos a considerar para se analisar o peso da inactividade física nos custos de saúde. Primeiro, qual a relação da (in)actividade física com a mortalidade e com a doença. Ou seja, qual a diferença no risco de doença/morte entre uma pessoa fisicamente activa e uma pessoa sedentária. Segundo, qual a prevalência da inactividade física (quantas pessoas são sedentárias). Com estes dados, é possível calcular a percentagem da doença e da mortalidade que pode ser atribuída à inactividade física.

 

Um dos gráficos deste artigo ilustra a relação entre o nível de actividade física e o risco de mortalidade. Pode observar-se que o risco diminui à medida que aumenta o tempo de prática de actividade física. E que a maior parte do efeito protector se obtém com 20-25 minutos por dia de actividade física moderada, valor próximo das recomendações da OMS para adultos: 150 minutos por semana em actividades como caminhadas em passo rápido, a prática de um desporto, aulas de dança, exercício físico no ginásio, ou corrida.

 

Relativamente à prevalência da inactividade física em Portugal, dados do Eurobarómetro (2014) revelaram que 72% dos adultos portugueses ‘nunca’ ou ‘raramente’ fazia exercício ou desporto, e apenas 23% cumpria as recomendações da OMS (no gráfico). No Inquérito Nacional da Saúde de 2014, apenas 20% dos inquiridos com mais de 15 anos referia praticar exercício físico pelo menos 3 vezes por semana. Noutro estudo nacional, a actividade física dos portugueses foi avaliada directamente com um aparelho electrónico usado à cintura (acelerómetro) e apenas 21% dos adultos atingia o valor actualmente recomendado pela OMS.

 

Considerando estes factores, estima-se que, em Portugal, a inactividade física seja responsável por 8% dos casos de doença das coronárias, 11% dos casos da diabetes do tipo II, 14% dos casos de cancro da mama e 15% de cancro colo-rectal. Relativamente à percentagem da mortalidade atribuída à inactividade física no nosso país, está estimada em 14%. Ou seja, se a actividade física se generalizasse a toda a população, uma em cada 7 mortes poderia ser evitada anualmente. Como eliminar a inactividade física é um cenário improvável, se o Estado português conseguir uma redução de 10% na sua prevalência – meta assumida para 2025 – poderão ser evitadas cerca de 1500 mortes todos os anos.

 

voltando aos custos, num artigo da revista Lancet publicado em 2016, o custo total da inactividade física em Portugal foi situado entre 210 milhões e 460 milhões de euros*, incluindo custos directos e perdas de produtividade com mortalidade prematura (dados de 2013). Contudo, apenas se consideraram custos directos relativos a 5 das 22 doenças e condições que a actividade física comprovadamente previne. E muitos custos indirectos não puderam ser estimados (ex. absentismo, custos com apoio familiar ao doente), como os próprios autores reconhecem. Mais importante, foi considerada uma prevalência de inactividade física para Portugal de 35%, um valor muito reduzido face à realidade.

 

Conclusão:

 

A estimativa de 900 milhões de Euros para o custo da inactividade em Portugal não deverá estar longe da realidade. Face ao progressivo aumento dos custos de saúde nos próximos anos, justifica-se mais do que nunca o investimento na prevenção do sedentarismo, com o esperado impacto no bem-estar individual, na prevalência das doenças não-transmissíveis, na mortalidade e na economia.

 

Notas: Referências usadas no texto: WHO (2015) Factsheets on health-enhancing physical activity in the 28 European Union member states of the WHO European region; Ding Ding et al. (2016) Lancet 388:1311; Min-Lee et al. (2012) Lancet 380:219; Loyen et al. (2016) Sports Med Dec 10 [Epub ahead of print].

 

*Conversão de dólares internacionais, considerando taxa de conversão de Paridades de Poder de Compra para Portugal em 2013 de 0,584 (https://data.oecd.org, fevereiro 2016).

 

Pedro Teixeira

 

Fonte: Público