Efeito é mais notório nas mulher do que nos homens. Estudo confirma que risco de desenvolver excesso de peso aumenta progressivamente com a idade.

As pessoas com um nível de escolaridade mais elevado apresentam um menor risco de ficarem obesas ou de desenvolverem excesso de peso. Esse efeito protector cresce à medida que aumenta o nível de ensino, sendo mais notório nas mulheres do que nos homens. Estas são as principais conclusões de um estudo do Instituto Nacional de Saúde Pública Doutor Ricardo Jorge, publicado na última edição do Boletim Epidemiológico do organismo.

 

O objectivo do estudo, intitulado Influência dos factores socioeconómicos no excesso de peso e obesidade na população portuguesa em 2014, era perceber se factores socioeconómicos como a educação e o rendimento apresentavam alguma relação com o risco de ficar obeso. As autoras do estudo não encontraram qualquer associação entre o rendimento e a probabilidade de desenvolver obesidade, mas detectaram um efeito protector nas pessoas com níveis de ensino mais elevados, especialmente nas mulheres. Confirmaram igualmente que o risco de ficar obeso ou de desenvolver excesso de peso aumenta de forma progressiva com a idade, uma relação já conhecida.

 

Estamos mais gordos do que pensávamos. Dois terços dos adultos têm excesso de peso

 

Os últimos dados da obesidade em Portugal, ainda preliminares e do mesmo instituto, indicam que dois terços das pessoas pesadas e medidas no primeiro inquérito nacional de saúde com exame físico, em 2015, tinham excesso de peso e 28,7% eram já obesas, percentagens que tem vindo a crescer nas duas últimas décadas. Esse aumento está associado ao consumo de dietas hipercalóricas e à ausência de actividade física.

 

Investir na educação para combater obesidade

 

“O nível de escolaridade também se encontra associado ao excesso de peso e obesidade, especialmente no sexo feminino, dado que as mulheres com ensino superior apresentam um menor risco de desenvolver excesso de peso e obesidade, comparativamente às mulheres com ensino pré-escolar”, lê-se no resumo do artigo. A probabilidade de as mulheres com formação superior ficarem obesas é menor do que a verificada nas mulheres que apenas possuem formação pré-escolar. E o efeito protector vai diminuindo à medida que desce o nível de ensino (secundário e 3.º ciclo do ensino básico) e deixa de ter significado nas mulheres com o primeiro e segundo ciclo do ensino básico.

 

Face aos resultados, uma das autoras do estudo, Vânia Gaio, destaca a importância de investir na educação. “Aumentando os níveis de educação conseguimos combater a incidência da obesidade”, realça a bolseira de investigação do Departamento de Epidemiologia do instituto. A investigadora nota que este efeito protector já foi associado a outros problemas de saúde, como a hipertensão, e, por isso, sustenta: “Tudo o que se faça para aumentar o nível de escolaridade terá um efeito positivo ao nível da saúde da população”.

 

Vânia Gaio, Joana Santos e Irina Kislaya, as três autoras do estudo, não exploraram porque é que o efeito protector do nível de escolaridade é mais notório nas mulher do que nos homens. Mas Vânia Gaio considera que é um aspecto a investigar no futuro. “O que sabemos é que os níveis de escolaridade nas mulheres têm muito mais consequências na adopção de estilos de vida mais saudáveis, o que não se verifica nos homens”, afirma.

 

A análise usou dados do inquérito nacional de saúde de 2014, que possui uma amostra representativa da população portuguesa. As estimativas de prevalência de excesso de peso e da obesidade foram obtidas com base no índice de massa corporal, calculado a partir de peso e altura reportados pelos visados. Esse é um aspecto que, reconhece Vânia Gaio, pode trazer alguns desvios à análise. “Sabemos que há uma tendência para reportar uma altura maior do que a real e um peso inferior ao real”, afirma. A investigadora explica que em 2015 foi feito o primeiro inquérito nacional de saúde com um exame físico associado e que tal permitirá perceber o impacto dos dados analisados terem sido reportados pelos visados e não contabilizados por terceiros. “Vai ser interessante perceber se no novo inquérito o padrão se mantém”, remata a investigadora.

 

MARIANA OLIVEIRA

 

Fonte: Público