“A saúde é a justa medida entre o calor e o frio"

 

Para que o organismo funcione corretamente, a temperatura corporal deve manter-se entre 35 e 40ºC. O organismo tolera bem pequenas variações de temperatura que normalmente ocorrem ao longo do dia, do ciclo menstrual, com a idade, ou mesmo derivadas de toma de medicamentos (antidepressivos, relaxantes musculares) ou de algumas patologias (hipotiroidismo, anemia). Já alterações drásticas da temperatura exterior, características do inverno, podem colocar a saúde do Homem em risco.

 

O frio causa diminuição da temperatura corporal, o que reduz a capacidade de resposta do sistema imunitário e favorece a atividade de vírus respiratórios, ficando o organismo mais susceptível a infeções. Pode ainda agravar os sintomas de doenças pré-existentes, nomeadamente cardiovasculares, respiratórias e músculo-esqueléticas. Por outro lado, podem surgir lesões na pele, por desidratação (secura, eczema) ou por exposição direta ao frio e à humidade (úlceras por frio derivadas do congelamento, queimaduras, pé-de-imersão ou frieiras). Em situações extremas, o frio pode diminuir a temperatura corporal abaixo dos 35ºC, causando hipotermia, cujos sintomas progridem de arrepios, sonolência, confusão, coma, até à morte. As crianças e os idosos são mais susceptíveis, pois têm muitas vezes limitações de movimento e de comunicação. Os idosos podem ainda apresentar pouca gordura subcutânea e falta de sensibilidade à temperatura. Indiretamente, o frio pode causar acidentes rodoviários por derrapagem, quedas no gelo, incêndios e intoxicações por monóxido de carbono devido ao uso incorreto ou mau funcionamento de sistemas de aquecimento.

 

Para contrariar os efeitos negativos do frio, existem dois tipos de mecanismos: internos e comportamentais.

 

 Os mecanismos internos consistem em mudanças involuntárias no organismo, que ajudam a regular pequenas variações da temperatura. Assim, perante temperaturas baixas, o organismo tenta preservar o calor eriçando os pelos para isolar a pele do frio, e constringindo dos vasos sanguíneos para reduzir o sangue exposto ao frio, desviando-o da pele e dos membros para áreas mais centrais (abdómen, peito e cabeça). Por outro lado, o organismo procura gerar mais calor, através de arrepios e do aumento do metabolismo das células, especialmente as do fígado. Estes processos conseguem aumentar até 5 vezes a produção de energia pelo organismo.

 

Por sua vez, os mecanismos comportamentais consistem em atitudes que procuram mudar as condições em que o Homem se encontra e o ambiente que o envolve. Estes mecanismos, se efetuados corretamente, acabam por ser mais eficazes que os anteriores. Seguidamente dá-se exemplos de mecanismos comportamentais e de formas de os tornar mais eficientes e seguros:

 

Adotar uma posição corporal encolhida, diminuindo as perdas de calor para o ambiente.

 

Vestir mais roupa para isolar a superfície corporal do frio. Escolher várias camadas de roupa em vez de uma muito grossa, pois aumenta o isolamento. Evitar roupas apertadas para não dificultar a circulação sanguínea. Vestir gorros e cachecóis para diminuir a dissipação de calor pela cabeça e pescoço. Usar luvas e meias quentes, pois a constrição dos vasos sanguíneos leva as extremidades a ficarem geladas e mais suscetíveis a lesões. Retirar qualquer peça de roupa húmida de imediato, pois a pele molhada congela a uma temperatura mais alta que a pele seca.

 

Abrigar-se em sítios cobertos e quentes, evitando locais com grande concentração de população, pois há maior probabilidade de propagação de infeções.

 

 Aquecer o ambiente utilizando aparelhos de aquecimento ou lareiras, confirmando antes o seu correto funcionamento e a sua limpeza. Manter um bom arejamento do espaço, para evitar intoxicações. Estes nunca devem ficar ligados sem supervisão.

 

Aquecer-se utilizando botijas de água quente, confirmando sempre se estão bem vedadas para evitar queimaduras. Evitar banhos prolongados com água muito quente e utilizar produtos de higiene com tensioactivos suaves e de pH fisiológico, que preservem o filme hidrolipídico da pele. Hidratar e nutrir adequadamente a pele em seguida.

 

Ingerir muitos líquidos, em especial bebidas quentes e açucaradas, pois o açúcar serve de combustível para as células produzirem energia e a água é essencial para a manutenção do metabolismo do organismo e evitar a secura da pele. Devem evitar-se bebidas alcoólicas, pois dão uma falsa sensação de aquecimento. Elas promovem dilatação dos vasos sanguíneos e maior quantidade de calor é dissipado para o ambiente através da pele. As bebidas alcoólicas e a cafeína podem ainda dificultar a produção de energia, devido à desidratação causada pela sua ação diurética.

 

Fazer exercício físico para produzir mais energia, evitando espaços ao ar livre, que possam expor a pele transpirada a baixas temperaturas e aumentar o risco de lesões.

 

 Outras medidas podem ser tomadas para prevenir os efeitos negativos do frio.

 

Alimentar-se corretamente, procurando comer muitos vegetais e fruta. Se necessário reforçar o sistema imunitário com suplementos multivitamínicos.

 

Vacinar-se contra a gripe e pneumonia, prevenindo assim também outras doenças que daí possam resultar.

 

Recorrendo a estas medidas, o Homem acaba por conseguir superar as mais difíceis condições climatéricas, sem que a sua Saúde seja afetada. JM

 

DRA. SÓNIA GONÇALVES Farmacêutica na Farmácia do Caniço Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

 

Fonte: Jornal da Madeira