Médico recomenda ainda a proibição do uso do biberão a partir dos 12 meses de idade.

Os pediatras defenderam esta quinta-feira a realização de refeições em família e sem qualquer dispositivo móvel como forma de evitar a obesidade, pois sem tecnologias a criança come devagar e percebe quando está saciada.

No âmbito da 23.ª edição das Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha, organizado pelo Centro Hospitalar de Leiria, a pediatra do Centro Hospitalar Lisboa Central, Júlia Galhardo, afirmou que os tablet, iphone e demais "'is não podem estar na mesa". "Se a criança estiver distraída não vai sinalizar que já está saciada e vai continuar a comer. As refeições devem ser feitas em família e devagar. Conversando sobre como correu o dia come-se mais devagar e o organismo tem tempo para fazer a sinalização [saciedade]".

 

Júlia Galhardo criticou ainda a forma como as refeições decorrem nas escolas, onde são feitas a correr. "Quem comer a sopa primeiro é que ganha. Está errado. Quem come a sopa devagar, é que deve ser premiado".

 

A mesma opinião tem a pediatra do Hospital da CUF, no Porto, Carla Rêgo, que considerou ainda as creches o "lugar mais catastrófico" na questão da alimentação. Esta pediatra recomenda ainda a proibição do uso do biberão a partir dos 12 meses, pois "permite a ingestão sem controlo de volumes brutais de leite", assim como o "leitinho nocturno", onde vão ser ingeridas proteínas "sem serem gastas".

 

A ingestão frequente de água, fazer cinco a seis refeições diárias, com poucas porções, comer devagar e não repetir são outros conselhos deixados. "Deve-se estimular a variedade e evitar proteínas e hidratos de carbono ao jantar. A partir da adolescência, o jantar pode ser apenas água, sopa e fruta".

 

Júlia Galhardo considerou que os sabores são outro aspecto que pode influenciar o excesso de peso, pelo que recomendou que o bebé comece a ingerir primeiro a sopa e só mais tarde a papa. "Se comer primeiro a papa, que é mais doce, vai ter mais dificuldade em introduzir o [sabor] amargo". Outra sugestão deixada por esta pediatra é recorrer a actividades do dia-a-dia para "pôr as crianças a mexerem-se". Por exemplo, "participar na limpeza da casa, ouvindo música e dançando ao mesmo tempo ou brincando com um animal de estimação".

 

Defendendo que "não é preciso ser fundamentalista" nas regras, Carla Rêgo considerou que a preocupação "não deve ser apenas com o fast food", pois "as bolachas, as barritas e outros alimentos processados têm muito açúcar e gordura".

 

A prevalência nacional da obesidade em idade pediátrica em Portugal é de 31,4%, revelou ainda Carla Rêgo, adiantando que o "valor mais elevado verifica-se no Norte".

 

Maria João Gala

 

Fonte: Público