Consumo de antibióticos aumentou em 2015 mas baixou. Mas especialistas alertam para o aumento da Klebsiella pneumoniae resistente aos antibióticos de largo espectro tidos como "últimas armas" para combater infecções.
Depois de ter aumentado em 2015, o uso de antibióticos em Portugal diminuiu no primeiro semestre de 2016, comparativamente com igual período do ano passado. As pessoas começam a ter mais consciência do uso correcto dos antibióticos – percebendo, por exemplo, que os antibióticos não tratam gripes ou vírus –, explicou nesta sexta-feira, em Lisboa, Paulo André Fernandes, director do Programa de Prevenção e Controlo de Infecções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA).
Na apresentação de novos dados relativos ao uso de antibióticos, incidência das infecções nos cuidados de saúde e taxa de resistência a esses antibióticos, com dados para 2015 e para os primeiros meses de 2016, Paulo André Fernandes ressalvou, porém, que “não é possível baixar a guarda” relativamente às bactérias que mais preocupam: a Klebsiella pneumoniae resistente a carbapenemes – “uma das bactérias mais disseminadas” –, a Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) e, em menor grau, a Escherichia coli.
Muito do trabalho a fazer passa pelo “uso racional dos antibióticos”, sublinhou. Este problema “não tem só que ver com as pessoas e com os utentes mas também e principalmente com os profissionais [de saúde] e com a qualidade da prescrição”, disse ainda.
Em Portugal, no primeiro semestre deste ano, a utilização de antibióticos baixou 3% no geral, nos hospitais e na comunidade, depois de ter aumentado 4,4% em 2015, como indicam os dados do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, em inglês) nesta sexta-feira divulgados. Mas os especialistas portugueses preferiram destacar os números do primeiro semestre deste ano. Neste período, o uso do antibióticos em meio hospitalar diminuiu 1% (a percentagem corresponde à dose diária por 1000 habitantes por dia).
Com uma evolução positiva (ou seja, de descida) está também o consumo de carbapanemes – classe de antibióticos de largo espectro que os especialistas designam como a última arma para combater infecções quando todas as outras alternativas já foram usadas sem darem resultado. O consumo desta substância baixou em 2015 e também nos primeiros meses de 2016 em meio hospitalar. Ainda assim, nos dados relativos a 2015, que o ECDC divulgou, Portugal continuava no ano passado a surgir no segundo pior lugar da lista, a seguir à Grécia.
Mais recém-nascidos em risco
Além de dados sobre os consumos, foram também apresentados números relativos à incidência de bactérias e respectiva resistência. “Temos um decréscimo em várias bactérias e em vários tipos de resistências [a antibióticos]. No entanto, a Klebsiella multirresistente, e principalmente aquela que é resistente aos carbapenemenes, continua a aumentar. E isso preocupa-nos”, admitiu Paulo André Fernandes.
No caso da MRSA, “houve uma proporção elevada de resistência”, acrescentou Manuela Caniça, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). A especialista destacou o aumento da resistência verificado entre 1999 e 2015, período durante o qual passou de 36,9% para 46,8%, depois de se atingir um nível máximo (54,6%) em 2011.
Relativamente à Escherichia coli, “Portugal está ainda numa posição relativamente confortável”, com uma taxa de 0,14%, "mas apesar de muito baixa poderá ser preocupante”, alertou. Sobretudo quando se olha para a evolução de outras bactérias: a incidência da Klebsiella pneumoniae resistente a carbapenemes, por exemplo, tinha uma percentagem pequena de 0,5% em 2011 que passou a ser de 3,7% em 2015. “Embora ainda esteja a um nível de percentagem baixa, comparativamente a outras resistências, a mensagem que tem que existir – principalmente para as instituições e para os profissionais de saúde – é que há uma tendência para subir”, realçou Paulo André Fernandes. Em Portugal, como também na Europa e no resto do mundo, verifica-se um aumento das taxas de resistência às Klebsiella pneumoniae resistente a carbapenemes, esclareceu.
Entre as outras tendências que merecem especial atenção estão “a pequena variação positiva” das infecções em cuidados de saúde de neonatologia. “Este dado em crescimento” está associado à prematuridade dos bebés. “Cada vez temos recém-nascidos mais frágeis e mais novos, porque cada vez mais conseguimos que recém-nascidos prematuros consigam sobreviver", acrescentou Paulo André Fernandes. Significa isto que há mais recém-nascidos “com riscos superiores de desenvolverem infecções”.
Fonte: Público