Por ano, entram na Unidade de Alcoologia São Ricardo Pampuri, da Casa de Saúde São João de Deus, no Funchal, 250 pessoas para deixarem o vício do álcool. 

De acordo com Eduardo Lemos, diretor daquela unidade de saúde, entre 10 a 12 por cento destes utentes são do sexo feminino e alguns dos casos são reincidências, isto é, utentes que voltaram a beber após o tratamento. 

Dos casos novos que pedem ajuda, este responsável adianta que a faixa etária anda à voltados 30-40 anos, uma idade “tardia” para um tratamento que sequer eficaz, como adianta Eduardo Lemos ao JM. 

«Para nós que tratamos, quanto mais tarde pior, porque, mais tarde, já há uma alteração cognitiva e física que condiciona o próprio tratamento e limita as próprias pessoas», esclarece, salientando que «este [tratamento]é um programa de muita construção do ponto de vista social, mental e pessoal, requerendo da parte do indivíduo capacidades para fazer essa construção em conjunto com a equipa». 

No total, são 28 dias de trabalho que têm culminado numa taxa de sucesso na ordem dos 60 porcento a um ano no que concerne à abstinência total. 

«Na área das dependências é um resultado excelente», congratula-se o diretor, destacando que estes resultados acontecem também devido ao facto deste processo ser certificado e obedecer a determinadas “regras” que levam depois ao seu sucesso. 

Dentro destas “regras” está o trabalho em rede que é feito junto do utente cá fora. 

Eduardo Lemos explica que, neste momento, a Casa de Saúde São João de Deus trabalha em rede em toda a Madeira, envolvendo não só equipas nos centros de saúde, mas também associações que se dedicam a esta problemática. 

Uma união de esforços que tem dado bons frutos mas que pode ser «melhorada e aprimo-rada», como também faz questão de dizer. 

«É sempre possível ir-se mais além nesta área», garante o responsável, apesar de reconhecer que o caminho é difícil. «Não é fácil deixar de beber», alerta. 

Todavia, e como são mais os casos de sucesso do que os de fracasso, este responsável aproveitou para salientar que, na reunião que se realiza mensalmente na Casa de Saúde São João de Deus, em colaboração com a Associação Antialcoólica da Madeira, há indivíduos que já não bebem álcool há mais de 40 anos e congratulam-se por isso. 

 «São pessoas que conseguiram reconstruir toda a sua vida e isso é muito gratificante para nós», desabafa. 

Recorde-se que o Centro de Recuperação S. Ricardo Pampuri iniciou a sua atividade em novembro de 1979, sendo atualmente a única unidade na Região específica para o tratamento de pessoas com problemas ligados ao álcool. O principal objetivo é tratar a pessoa com dependência alcoólica através da desintoxicação orgânica e pela reabilitação psicológica, familiar e social. 

Intervenção tem sido eficaz mas pode ser maior 

Que há um grande consumo de bebidas alcoólicas por parte dos jovens, isso já não é novidade. Contudo, o diretor da Casa de Saúde São João de Deus reconhece que «nunca se trabalhou tanto e tão bem na área da prevenção como agora». Eduardo Lemos não tem dúvidas que o trabalho que tem sido desenvolvido na comunidade educativa, envolvendo alunos, pais e professores, dará, no futuro, bons resultados, tanto que assim é que há estudos publicados este ano que mostram essa mesma diminuição (por exemplo, o estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco, Drogas e Outros Comportamentos Aditivos e Dependência divulgado no início deste ano pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências). 

Mesmo assim, este profissional da saúde alerta para o facto de continuar a ser importante um maior envolvimento da família nestes assuntos. «As famílias devem ser mais participativas e interventivas», sugere.

 

Fonte:Jornal da Madeira