Quando há um desencontro crónico entre o ambiente exterior e o relógio biológico, aumenta o risco de contrairmos inflamações, doenças metabólicas (obesidade, raquitismo), cancro e doenças neurodegenerativas (epilepsia, Alzheimer)

 

O primeiro inquérito a médicos e doentes sobre cancro hereditário em Portugal revela que 60% dos doentes que fizeram testes genéticos já tinham um diagnóstico de cancro quando se submeteram ao exame. E destes, 67% efetuaram ações preventivas, como cirurgias ou vigilância mais intensiva

 

A Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) promoveu um inquérito junto de unidades de saúde e hospitalares para avaliar os recursos disponíveis para o acompanhamento das situações de cancro hereditário. Também a Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes Relacionados com Cancro Hereditário (Evita) ouviu doentes oncológicos e pessoas saudáveis mas portadoras de mutação que os predispõe para a doença. Os resultados, apresentados esta sexta-feira, revelam que é preciso ir mais longe numa área que responde por cinco a 10% dos casos oncológicos e a única forma de cancro que pode ser prevenida. Os resultados serão apresentados este sábado no Congresso Nacional de Oncologia, no Estoril.

 

As respostas das 31 unidades de saúde/hospitais inquiridos revelam, segundo um comunicado emitido pela (SPO), que "os serviços de seguimento de famílias com cancro hereditário em Portugal estão a evoluir, no entanto, ainda há um longo caminho a percorrer". O inquérito demonstra que "os hospitais do SNS, na sua maioria, têm as condições técnicas para a abordagem e seguimento das principais síndromes hereditárias de cancro", contudo, "apenas 45,2% têm uma estrutura multidisciplinar organizada para o seguimento das famílias com cancro hereditário".

 

Já a pesquisa efetuada pela Evita revela que 78% dos inquiridos com história familiar de cancro não chegaram a fazer teste genético. Segundo o comunicado, "este número pode ser explicado por não haver indicação formal para este estudo médico, ou pela dificuldade na acessibilidade à consulta genética médica". Falta de informação ou desconhecimento sobre os próprios testes também poderão ter contribuído para este resultado sobre uma forma de cancro caracterizada por afetar pessoas ainda jovens, com vários tipos de doença oncológica numa mesma família e com manifestações mais agressivas ou raras.

 

Entre os 611 inquiridos que chegaram a submeter-se ao exame, 76% referiram que foram aconselhados por um médico especialista ou por um familiar, no contexto do estudo da família, e 60% destes já tinham diagnóstico de cancro quando o fizeram. Além disso, três em cada quatro inquiridos que receberam um resultado positivo, 92% viram a sua família ser referenciada para um consulta genética,

 

Dos inquiridos que fizeram teste genético e tiveram resultado positivo, 67% efectuaram ações preventivas, como cirurgias ou submeteram-se a uma vigilância mais intensiva. "Pela primeira vez, temos uma perspetiva global sobre o cancro hereditário no nosso país, o que nos permite identificar mais facilmente as lacunas no encaminhamento e no acompanhamento dos portadores da mutação genética, ainda saudáveis ou já doentes", afirma Tamara Milagre, presidente da Evita, no comunicado.

 

Christiana Martins 

 

In “Expresso”