Há dias estava numa festa de aniversário e conheci uma senhora que tinha sido educadora no Auxílio Maternal na altura em que frequentei aquele espaço. Não tinha sido minha educadora mas no meio da conversa perguntei-lhe o que achava das crianças de hoje em dia comparativamente às crianças do meu tempo. Ela olhou para mim e muito calmamente retorquiu: “As crianças são as mesmas, os pais é que mudaram!”.

Isto pôs-me a pensar: o que será que mudou? Os princípios e os valores? A educação? O quê? O que é realmente importante?

 

Hoje em dia, os pais brincam muito pouco com os filhos. Depois de um dia de trabalho, muitos pais chegam a casa cansados e stressados e ainda têm que fazer as tarefas domésticas. Nisto, os filhos ainda pedem para brincar. Sem querer generalizar, muitos pais dão o telemóvel/ tablet aos filhos ou pedem-lhes para que vejam televisão ou para que vão para o quarto fazer qualquer coisa. É compreensível o cansaço que os progenitores sentem, no entanto, o tempo que podem passar com os filhos a brincar é impagável e não volta atrás. Inúmeras vezes os pais estão no telemóvel, vendo o facebook ou respondendo a mensagens dos amigos no whatsapp ou postando fotos no instagram e o filho pede-lhes algo, ao que o pai responde: agora não, daqui a pouco! Lembre-se, esta poderá ser a resposta do seu filho para o pai passados uns anos.

 

Ao brincar algum tempo com os seus filhos, eles vão perceber que está presente (a fazer algo em conjunto), vão querer compartilhar coisas consigo, vão conhecê-lo melhor e perceber o que espera deles. É assim que os laços afetivos crescem. O jogo e o brincar tem um papel determinante no desenvolvimento psicoafetivo.

 

As brincadeiras são as primeiras experiências das crianças, e as interações pais/ filhos, fazem com que as crianças experimentem diferentes estímulos em proteção, com regras e limites, de uma maneira mais afetuosa.

 

Lembre-se de parar o que está a fazer e brinque com os seus filhos. O brincar estimula o desenvolvimento das crianças: a motricidade (andar, correr, saltar, cair, levantar, subir e descer); a comunicação, a linguagem, a imaginação e o raciocínio. A brincar, as crianças aprendem os valores e regras da boa convivência (o agradecimento, a partilha, a pedir desculpa, a arrumar, etc). A jogar, as crianças aprendem a expressar os seus sentimentos, a compreender o que se passa à sua volta, a ter paciência, a resolver problemas e a gerir as suas frustrações. Os pais não devem ter medo das frustrações dos seus filhos. Elas fazem parte da vida.

 

Pais, os vossos filhos imitam-vos em tudo! A forma como brincarem com eles, poderá ser a forma como eles agirão com os outros. Aquela frase “quem sai aos seus…”, assenta nessa premissa. Privilegiem as interações cara a cara, com toque, preferencialmente na rua, em detrimento das brincadeiras virtuais com recurso às novas tecnologias. Se o seu filho já faz birras pelo telemóvel ou tablet, consciencialize-se que terá que lhe dizer que não, explicando-lhe calmamente a razão. O papel do pai não é ser um porreiraço e dizer que sim a tudo, é impor limites e estabelecer regras. Atualmente, um dos problemas de muitos jovens é a incapacidade de saber gerir as suas frustrações e muitos incorrem, por exemplo, no consumo de substâncias psicoativas, pelo simples motivo de que isso lhes poderá atenuar esse desconforto.

 

Os pais trabalham tanto na esperança de proporcionar um mundo melhor para os filhos, que se esquecem que é mais importante proporcionar experiências que tornem os filhos melhores para o mundo.

 

JOSÉ MARIA MAIA

 

Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais, IP-RAM/UCAD 

 

In “JM-Madeira”