Todas as semanas são diagnosticadas novos casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) nos dois turnos de consultas disponibilizados pelo Serviço de Doenças Infecciosas do Serviço de Saúde da Região (Hospital dos Marmeleiros) para estas problemáticas.

 

Ana Paula Reis, directora daquele serviço hospitalar, explica ao DIÁRIO que os diagnósticos são feitos quer a homens, quer a mulheres, de todas as idades, desde a adolescência até à terceira idade. “Desde que a pessoa tenha a vida sexual activa e uma prática sexual não segura, a infecção pode acontecer”, alerta a médica.

 

Embora sem dados específicos, a directora do Serviço de Doenças Infecciosas afirma ainda que, não só na Região, mas em todo o país e mundo, as IST têm vindo a aumentar, “apesar da disponibilidade actual de tratamentos efectuados para a maioria”.

 

E surgem casos de todas as IST e não apenas das mais comuns como a Sífilis, a Gonorreia, a Tricomoníase, a Clamídia, a Candidíase, o Vírus do Papiloma Humano ou o Herpes, isto para não falar da Hepatite B ou o VIH.

 

Algumas IST integram a lista nacional de Doenças de Declaração Obrigatória, através da qual é possível verificar o número de diagnósticos realizados em Portugal nos últimos anos. Por exemplo, no caso da Gonorreia, entre 2013 e 2016, foram registados no SINAVE, 1.264 casos. Na Madeira, houve 3 casos em igual período. No que concerne a Hepatite B, os dados nacionais apontam para 314 casos (2 na Madeira) e em relação à Sífilis, entre 2013 e 2016 houve 2.117 diagnósticos em todo o país, sendo que 37 foram registados na Madeira. Em 2017, o DIÁRIO sabe que foram registados na Região 37 casos de sífilis, tantos quanto nos três anos anteriores, mas Ana Paula Reis admite que esse aumento não está necessariamente ligado a um acréscimo no número de casos, mas sim a um aumento na notificação dos mesmos. “Temos sempre casos novos, novas infecções. Só que agora, as pessoas estão mais sensibilizadas para os notificar”, explica.

 

A verdade é que, como sublinha a médica, “qualquer pessoa pode contrair uma IST”, sendo actualmente “um dos maiores problemas de saúde pública, porém com a possibilidade de serem prevenidas e controladas através de intervenção no comportamento das populações”. “O comportamento sexual com as suas preferências, o tipo de práticas, o número de parceiros, a atitude perante a doença, a prostituição, o ‘glamour’ da pílula relegando para segundo plano o uso de preservativos, são os factores condicionantes da disseminação destas doenças”, salienta ainda.

 

Maioria tratada com antibióticos

 

A maioria das IST são tratáveis ou mesmo curáveis (exceptuando o VIH) e todas são preveníveis. A maioria é mesmo tratada com recurso a antibióticos. Ana Paula Reis explica que algumas destas doenças são de fácil tratamento e resolução, sobretudo quando tratadas correctamente. “Contudo, outras são de tratamento difícil, ou permanecem latentes, apesar da falsa sensação de melhoria”. A directora do Serviço de Doenças Infecciosas refere que as mulheres devem receber especial atenção uma vez que, em algumas IST, os sintomas levam tempo a se tornarem perceptíveis ou então confundem-se com algumas reacções orgânicas comuns. “Isso exige da mulher, em especial àquelas com vida sexual activa e independentemente da idade, consultas periódicas de saúde”.

 

Segundo explica Ana Paula Reis, todas as IST têm sinais de alarme a que as pessoas devem ter atenção. “São caracterizadas, em maior ou menor grau, pela existência de ulcerações genitais, leucorreia (corrimento vaginal espesso e de cor branca ou amarelada), corrimento uretral, disúria (ardor ao urinar) e polaquiúria (urinar várias vezes)”.

 

Considerando ainda que muitas pessoas nos estágios iniciais de uma IST não apresentam sintomas, a directora do Serviço de Doenças Infecciosas sublinha que a triagem destas doenças é importante na prevenção de complicações, como dor pélvica, complicações na gravidez, inflamação ocular, artrite, doença inflamatória pélvica, infertilidade, doença cardíaca e mesmo certos cancros.

 

De qualquer maneira, em caso de suspeita, o importante é procurar cuidados médicos apropriados. Nestes casos, “uma história pregressa minuciosa (data do último contacto sexual, número de parceiros, hábitos e preferências sexuais, métodos concepcionais utilizados, etc), a pesquisa do uso recente de antibióticos, patologias subjacentes (diabetes mellitus, hipotiroidismo) e terapêuticas crónicas são dados importantes a colher” nestas consultas, diz ainda Ana Paula Reis, acrescentando que “a sensibilização para a necessidade terapêutica do parceiro, a fim de romper a cadeia de contaminação, assim como de uma adesão total ao tratamento são fundamentais. “Uma vez diagnosticada a IST é obrigatória a sua notificação”, acrescenta.

 

A médica chama ainda a atenção para o facto da automedicação ser altamente perigosa, “pois pode até fazer com que a doença seja camuflada”.

 

E porque prevenir é sempre o melhor remédio, Ana Paula Reis recorda que há várias formas de prevenção. É caso das vacinas que actualmente já estão disponíveis para o Vírus do Papiloma Humano e para a Hepatite B. “O uso correcto e regular do preservativo constitui uma barreira efectiva contra propagação das IST, não esquecendo que se trata ainda de um método eficaz de contracepção. Deve ainda ser utilizado em qualquer tipo de prática sexual, seja vaginal, oral ou anal”, salienta, referindo ainda a importância de ter um pequeno número de parceiros ou manter relações sexuais sempre com o mesmo parceiro, a importância da circuncisão masculina e da abstinência sexual, sobretudo durante os períodos activos de doença.

 

“Não restam dúvidas que as IST são responsáveis por grande sofrimento físico e psicológicos, além de factor de risco acrescido de infecção por VIH, e que por isso devem ser prevenidas”, alerta Ana Paula Reis.

 

In “Diário de Notícias”