O cancro colorectal é o cancro mais frequente em Portugal, com 7000 novos casos/ano. Corresponde à primeira causa de morte por cancro, sendo responsável por 4000 mortes/ano.

A idade é o principal fator de risco, em que 90% dos casos são diagnosticados em indivíduos com mais de 50 anos, sendo a idade mediana 72 anos. Outros fatores de risco a ter em conta são a Doença Inflamatória Intestinal, como a Colite Ulcerosa e a Doença de Crohn, e história familiar de cancro colorectal, sobretudo em familiares de 1º grau e/ou idades de diagnóstico jovens ( <50 anos). O tabagismo, a obesidade, a diabetes mellitus tipo 2 e a alimentação rica em gorduras e carne vermelha são historicamente associados ao aparecimento de cancro colorectal, embora estas associações não estejam tão bem estabelecidas.

 

A perda de sangue nas fezes é um sinal de alarme, que deve fazer o utente recorrer ao médico assistente num curto espaço de tempo, uma vez que corresponde à forma de apresentação mais comum. Alteração dos hábitos intestinais (alternância entre diarreia/obstipação), cólicas abdominais e sensação de esvaziamento intestinal incompleto, correspondem também a sintomas de alerta. O cansaço e a perda de peso, não explicada por outro motivo, estão geralmente associados a uma doença mais avançada.

 

Quando diagnosticado precocemente, a taxa de cura ronda os 90%. Em Portugal, está implementado um programa de rastreio, cujo principal objetivo é o diagnóstico de lesões pré-malignas ou de lesões malignas em estádio inicial. Este programa assenta na realização de Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes a indivíduos assintomáticos entre os 50 e os 74 anos, a cada 2 anos. Sempre que o teste for positivo, é mandatória a realização de uma colonoscopia total diagnóstica. Este exame para além de fazer o diagnóstico de lesões malignas, deteta pólipos adenomatosos, que podem ser removidos durante o exame. Estes pólipos adenomatosos correspondem a lesões precursoras de cancro, que quando identificadas e excisadas atempadamente, é evitada a sua progressão para cancro. Esta progressão geralmente ocorre por alterações genéticas em genes chave, como é caso dos genes APC, Kras e p53.

 

O diagnóstico definitivo de cancro é realizado a partir da análise histológica de tecido, obtido através de uma biópsia. Esta biopsia poderá ser da lesão tumoral primária do intestino (acessível por colonoscopia) ou, mais raramente e em caso de doença avançada, de alguma lesão metastática à distância, como do fígado ou do pulmão. Exames de imagem, como o TAC e a ressonância magnética, no caso do reto, são essenciais para o estadiamento da doença, ou seja, para definir qual a extensão da doença, por forma a delinear a melhor estratégia terapêutica.

 

A biópsia líquida é uma ferramenta inovadora, que no cancro colorectal, começa a dar os primeiros passos na prática clínica. Distingue-se das biópsias de tecido convencionais, por ser uma técnica simples, não invasiva, cujos resultados poderão estar disponíveis rapidamente. Esta técnica consiste numa colheita de sangue e posterior análise do material genético tumoral em circulação. Em alguns casos, permite a caracterização do perfil molecular do tumor, e consequentemente contribui para uma escolha terapêutica mais diferenciada, de acordo com as alterações encontradas, aumentando assim a probabilidade de sucesso. Assim, prevê-se que a utilidade das biópsias líquidas venha a ser, num futuro próximo, bastante abrangente, com impacto a nível do diagnóstico, do tratamento e monitorização da doença ao longo do tempo, podendo inclusive antecipar a sua progressão.

 

A evolução e desenvolvimento deste tipo de técnicas, em várias áreas da Oncologia, antecipam que a Medicina de Precisão será também uma realidade no Cancro colorectal, em que o tratamento desta doença será adaptado a cada indivíduo, com a perspetiva de potenciar a eficácia e minimizar os efeitos secundários.

 

Sandra Custódio

 

Oncologista do Hospital de Gaia.

In “Saúde Online”