A Doença de Alzheimer é uma patologia neurodegenerativa, descrita pela primeira vez em 1907 pelo médico alemão Alois Alzheimer. É o tipo mais comum de demência e estima-se que existam cerca de 130 mil pessoas com Doença de Alzheimer em Portugal, 3000 na ilha da Madeira.

Segundo os últimos dados publicados em julho na revista científica The Lancet existem 50 milhões de pessoas afetadas em todo o mundo, e prevê-se que este número aumente para 75 milhões em 2030 e 132 milhões em 2050.

 

Devido ao seu carácter neurodegenerativo, a Doença de Alzheimer provoca atrofia cerebral que se manifesta pelo declínio lento e progressivo das funções cognitivas (compreensão, orientação, atenção, raciocínio, linguagem e memória). Inicialmente, os doentes começam por perder a memória associada a factos mais recentes (memória a curto prazo), mas mantêm a memória para acontecimentos mais antigos (memória de longo prazo) até que, eventualmente, esta última também é atingida.

 

Um facto curioso referido por vários cuidadores é que muitos doentes com Alzheimer conseguem reconhecer e cantar melodias, ou apresentar fortes emoções ao ouvir canções associadas a momentos importantes nas suas vidas, apesar de não se lembrarem do nome dos seus familiares. Motivados para encontrar a explicação científica desta realidade, os neurocientistas do Instituto Max Planck na Alemanha descobriram, em 2015, que ao contrário de outros tipos de memórias, a memória musical de longo prazo está preservada nos doentes com Alzheimer. Primeiro, os investigadores identificaram duas áreas cerebrais (a porção anterior da circunvolução cingulada e a área motora suplementar) onde as memórias musicais são armazenadas nesta população clínica. Posteriormente, constataram que nestas mesmas regiões, a perda de neurónios e consequente atrofia cerebral ocorre de uma forma mais lenta e gradual, o que pode explicar a persistência de memórias musicais até às fases mais avançadas da doença.

 

Por este motivo, é de todo o interesse estimular os doentes de Alzheimer com música, seja através da musicoterapia ou da música-medicina (audição de música pré-gravada). Ambas são estratégias de reabilitação recomendáveis com benefícios já estabelecidos. A audição de músicas familiares e favoritas específicas para cada doente melhora o seu autorreconhecimento e reativa memórias e emoções. Em alguns casos, os doentes chegam a ser capazes de cantar, mesmo quando é-lhes quase impossível falar.

 

A Associação de Alzheimer de Toronto, no Canadá, distribuiu 10 mil iPods com playlists personalizadas, com o intuito dos doentes ouvirem as suas músicas favoritas durante o máximo de tempo possível. A implementação desta ideia apoiou-se no sucesso do projeto “Música e Memória”, realizado em Nova Iorque, a partir do qual foi produzido o documentário “Alive Inside” (www.aliveinside.us) e que retrata as experiências positivas após a audição de música pelos doentes de Alzheimer. Na Madeira, a delegação regional da Associação Alzheimer Portugal já disponibilizou, em 2013, sessões de musicoterapia em grupo. Neste momento são desenvolvidas algumas atividades musicais, incluídas nas sessões de estimulação cognitiva.

 

Não há cura para esta doença. Para além da medicação que atenua os sintomas, a estimulação cognitiva e as intervenções musicais parecem retardar o processo de degeneração na Doença de Alzheimer.

 

In “Jornal da Madeira”