A forma como a comunicação social escreve e noticia um suicídio pode contribuir positivamente para a saúde pública, no sentido de promover aprendizagens preventivas deste ato, foi a mensagem deixada, esta manhã, no 'workshop' 'Efeito Papageno: a importância do papel do jornalista na prevenção do suicídio'.

“Uma ação mais consciente nas coberturas jornalísticas e mesmo na edição da informação pode, sem dúvida, ter um potencial preventivo do suicídio, há dados científicos nesse sentido”, indicou ao JM o orador da formação, o psicólogo clínico José Manuel Borges.

 

“Basta apenas alguns cuidados na narrativa da notícia e há outras coisas que podem promover a queda do estigma relativamente à doença mental, ao sofrimento psicológico, porque é verdade que 90% das pessoas que podem praticar o suicídio têm problemas mentais diagnosticados, mas 10% não”, frisou.

 

Nesse sentido, exemplificou que algumas precauções passam por “tomar cuidados especiais na reportagem de pessoas famosas vítimas de suicídio consumado, centrando-se nas consequências para os sobreviventes”. “Trabalhar em conjunto com as autoridades de saúde para recolher informações fidedignas sobre os factos” foi outro dado que considerou relevante.

 

Por outro lado, José Manuel Borges defendeu que uma notícia sobre este tema pode ser aproveitada para “educar o público sobre o suicídio, informando sobre indicadores de risco e sinais de aviso”, além de “referir linhas de ajuda e recursos comunitários”.

 

O psicólogo apresentou ainda diversos estudos, que foram comentados pelos participantes e que, nas suas conclusões, sugeriam que “notícias sobre suicídios nunca devem aparecer na primeira página, nem numa notícia de abertura. Nos telejornais, não devem estar na primeira parte”.

 

Também se devem “evitar as fotografias do falecido, do método utilizado e da cena do suicídio, além do local onde o mesmo aconteceu”.

 

As notícias devem ter em conta “o impacto do suicídio nas famílias e nos outros sobreviventes em termos do sofrimento psicológico e do estigma”, passando igualmente pela forma como o ato é descrito. É preferível falar em “vítimas de suicídio” do que divulgar que alguém “cometeu um suicídio”, referiu o orador.

 

Dessa forma, sustentou José Manuel Borges ao JM, “o jornalista pode ser um interpretador, um filtrador, e também alguém que vai proteger as pessoas mais sensíveis e, nesse sentido, acaba por ser um agente importantíssimo em termos de saúde pública”.

 

Refira-se que esta formação decorreu integrada nas Jornadas de Prevenção do Suicídio e foi da responsabilidade da Unidade de Psicologia do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira. Contou com a participação de uma dezena de jornalistas de vários órgãos de comunicação social e profissionais do meio, além de elementos do SESARAM.

 

Sofia Lacerda

 

In “Jornal da Madeira”