A úlcera venosa é um tipo de úlcera de perna que representa um problema de saúde a nível mundial, tem um grande impacto na nossa sociedade e na qualidade de vida da pessoa que possui esta ferida. A causa mais frequente deste tipo de ferida crónica é a insuficiência venosa, que se carateriza pelo mau funcionamento das veias. Estas deixam de conseguir promover o retorno do sangue ao coração, devido à perda de elasticidade, de resistência e, consequentemente, devido à sua dilatação. Deste modo, as válvulas existentes nas veias não fecham de forma eficiente, causando refluxo, acumulação do sangue e originando as chamadas veias varicosas ou varizes.

A úlcera venosa surge a nível dos membros inferiores de forma espontânea ou traumática, mas em 70% dos casos é uma complicação da insuficiência venosa. Pessoas de diferentes faixas etárias apresentam úlceras venosas, porém, as mulheres com idades compreendidas entre os sessenta e os oitenta anos são as mais afetadas. Na RAM, segundo um estudo realizado (Jesus, 2014), o número de pessoas com úlcera de perna é de 1,39 por cada mil habitantes, sendo a de origem venosa a predominante (88,7%), com a duração de mais de um ano (54,8%).

 

O tratamento de primeira linha da úlcera venosa é a terapia compressiva, que garante uma melhor e mais rápida cicatrização, diminui as taxas de prevalência e de recorrência e reduz os custos associados ao tratamento desta ferida. Esta terapia consiste na aplicação de ligaduras ou de meias de compressão, que ao comprimirem externamente a pele e as estruturas subjacentes, permitem o restabelecimento da pressão venosa próximo ao da normalidade. A compressão das veias facilita o funcionamento das válvulas, diminui a pressão venosa e aumenta a velocidade do sangue em circulação, assegurando que mais nutrientes e oxigénio cheguem aos tecidos, resultando na cicatrização da úlcera venosa.

 

Viver com uma úlcera venosa, muitas vezes durante anos, acarreta grande impacto nos múltiplos domínios da pessoa, nomeadamente, a nível físico, psicológico, emocional, espiritual, social, familiar e económico. Deste modo, é fundamental que os profissionais de saúde garantam uma prestação de cuidados de qualidade, onde é crucial discernir mentalmente, que a ferida que se trata não pertence a uma “perna” isolada, descontextualizada da realidade, mas pertence antes, a uma pessoa que merece uma atenção global e individualizada. É necessário um cuidado que englobe, em primeira instância, a existência de uma equipa multidisciplinar (enfermeiro, médico, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta), o tratamento da ferida (limpeza, utilização de pensos e terapia compressiva), o tratamento de complicações subjacentes, um padrão alimentar especifico e a premissa fundamental do cuidar a ferida e a pessoa como um todo integrado.

 

Cuidar de uma pessoa com úlcera venosa pressupõe a adoção de boas práticas, que traduzam cuidados de saúde assentes numa prática assistencial, holística, de acolhimento e de respeito, tendo por base os sentimentos e os valores fundamentais à dignidade humana.

 

Por: Cátia Neves

 

Vogal Suplente do Conselho de Enfermagem Regional da Secção Regional da RAM da Ordem dos Enfermeiros

 

Fonte: Jornal da Madeira