O AVC (de volta ao capítulo do sistema nervoso na 11º revisão do ICD após 62 anos de exílio) mantém-se como principal causa de morte e morbilidade em Portugal, tendo sido em 2014 responsável por 11% do total dos óbitos.

No entanto nem tudo são más notícias, tendo-se registado uma progressiva diminuição da incidência do AVC, com redução em termos de mortalidade (<46% numa década) e morbilidade. Esses ganhos são seguramente consequentes de medidas de prevenção de âmbito populacional.

Por fator de risco entende-se um comportamento ou doença que aumenta o risco de um acontecimento ou outra doença. Os fatores de risco demonstram uma associação forte (preditiva) e etiologicamente significativa (causal) com a doença que se pretende evitar.

Por promoção de saúde ou prevenção primordial entende-se medidas visando a população em geral. O objetivo é o desenvolvimento de estratégias que previnam o aparecimento de fatores de risco para AVC, atuando antes das doenças (ou fatores de risco) surgirem, evitando na medida do possível que estas apareçam. Destinam-se globalmente à população como um todo (…são para a toda a gente).

Por prevenção primária entende-se estratégias direcionadas para indivíduos presentes na população, já com um ou mais fatores de risco para AVC, visando a deteção e tratamento custo-efetivo dessas doenças (hipertensão arterial, tabagismo, diabetes mellitus, dislipidémia, fibrilhação auricular), antes de acontecer o AVC e tentando evitar que ele ocorra.

Ambas as estratégias são complementares e têm como objetivo a prevenção do AVC (tentam evitar a sua ocorrência).

Relativamente ao AVC sabemos que o principal fator de risco é a idade sendo, obviamente, não modificável (é o preço a pagar por nos irmos mantendo vivos).

Por fator de risco modificável entende-se comportamentos ou doenças, para os quais a sua prevenção ou tratamento irá no futuro reduzir o risco de vir a ter um AVC.

Sabemos que:

·         Mais de 90% do risco para AVC é atribuível a fatores de risco modificáveis – comportamentais, metabólicos ou ambientais;

·         Sendo que 74,2% do risco do AVC é atribuível a fatores de risco comportamentais – nomeadamente tabagismo, dieta inadequada e inatividade física.

Sabemos ainda que escolhas de vida saudáveis permitem uma redução de risco significativa.

Quais são então essas medidas? (AHA’s Life’s Simple 7)

Comportamentais – educação para a saúde, escolhendo um estilo de vida saudável:

·         Mantendo atividade física regular;

·         Valorizando uma dieta saudável (como a dieta mediterrânea), usando produtos frescos, de época, produzidos localmente (diversidade) equilibrando o consumo calórico com a atividade física (frugalidade), parando a epidemia do sal e do açúcar;

·         Mantendo um peso adequado, controlando a obesidade;

·         Prevenindo o tabagismo e intervindo na cessação tabágica.

Métricas

·         Controlar tensão arterial;

·         Controlar níveis de colesterol;

·         Controlar valores de glicémia.

Assim, mediante educação populacional para a saúde (estilo de vida saudável), com divulgação, prevenção, reconhecimento, deteção e intervenção terapêutica precoce nos principais fatores de risco vascular, podemos, a longo prazo, manter a progressiva redução da incidência e prevalência do AVC em Portugal e evitar as suas trágicas consequências em termos de mortalidade e morbilidade (dependência).

Fernando Pita

Coordenador da Unidade Funcional de Neurologia

In “Saúde Online”