Os desenvolvimentos nas técnicas de produção e extracção, bem como a criação de mercados legais fora da União Europeia, são alguns dos factores que contribuem para o aumento da potência.

 

O Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (OEDT) alertou esta terça-feira que existe cada vez maior diversidade e aumento da potência de produtos de cannabis na Europa e defende uma “monitorização apertada” dos efeitos para a saúde.

 

Num novo relatório sobre a cannabis, divulgado na véspera do Dia Internacional Contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, o OEDT identifica uma série de factores por detrás da actual diversidade de produtos de cannabis na Europa, “incluindo desenvolvimentos nas políticas, avanços nas técnicas de produção e extracção e mudanças nas preferências dos consumidores”. A criação de mercados legais de canábis recreativa fora da União Europeia (UE) é também apontada como impulsionadora da inovação no desenvolvimento de novos produtos de cannabis, alguns dos quais estão agora a aparecer no mercado europeu.

 

Todos estes factores levam os técnicos da agência europeia das drogas e da toxicodependência, sediada em Lisboa, a considerarem “essencial” que a situação seja “acompanhada de perto”, controlada a sua potência e os efeitos para a saúde dos consumidores.

 

O director do OEDT, Alexis Goosdeel, afirma que “a natureza dinâmica do actual mercado de cannabis e a diversificação dos produtos disponíveis trazem desafios consideráveis” e, como tal, “é importante acompanhar e compreender as novas tendências dos produtos actualmente à disposição dos consumidores europeus, para informar o debate político e de regulamentação”.

 

A cannabis continua a ser a droga ilícita mais consumida na Europa, estimando-se que cerca de 17,5 milhões de jovens europeus (entre os 15 e os 34 anos) tenham consumido no último ano.

 

Os dados apontam que cerca de 1% dos adultos (entre 15 e os 64 anos) consuma cannabis diariamente. Em 2017, cerca de 155 mil pessoas iniciaram na Europa tratamento devido a problemas relacionados com o consumo desta droga.

 

As drogas estão mais puras e isso é pior para os consumidores

 

Actualmente, a cannabis é a substância indicada com mais frequência pelos novos utentes dos serviços especializados de tratamento da toxicodependência como principal motivo para procurarem ajuda.

 

A cannabis contém muitos químicos diferentes, sendo os mais conhecidos o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). As novas técnicas de extracção destes componentes permitem que se atinjam níveis muito elevados de THC (70 a 80%) e o consumo de concentrados “pode resultar numa exposição alta a THC e potencialmente um maior risco de psicose e dependência”.

 

O THC está presente em alimentos (muitas vezes doces ou líquidos) e a adição de produtos de cannabis a alimentos “resulta num início mais lento e numa duração mais longa dos efeitos” relativamente à droga fumada.

 

Os canabinóides sintéticos contêm substâncias químicas artificiais que imitam os efeitos da cannabis, “mas podem ser muito mais potentes”.

 

Alguns destes canabinóides sintéticos são vendidos como substitutos lícitos da cannabis, mas outros são agora controlados internacionalmente ou sob legislação nacional.

 

Marijuana: cuidado com as imitações

 

Existem medicamentos à base de cannabis e produtos fabricados segundo padrões farmacêuticos para uso medicinal e outros com composições e descrições variadas.

 

O relatório alerta para a “necessidade de desenvolver ferramentas de monitorização para recolher informações sobre estes novos produtos e os seus efeitos na saúde”, a nível europeu e de cada Estado-membro, “em particular dos concentrados de cannabis”.

 

Nos EUA descobriu-se que há médicos que receitam canabis a pessoas que não precisam, apenas para as viciarem e darem dinheiro a ganhar a empresas nas quais têm interesses. É fundamental que na Europa esse assunto seja muito bem acompanhado!...

 

In “Público”