O continente africano testemunhou o aumento mais dramático. Ucrânia, Madagáscar e Índia são os países mais afetados pela doença. EUA e Tailândia, que têm altos níveis de cobertura de vacinação, também registaram picos. “A proliferação de informações confusas e contraditórias” sobre as vacinas é em parte culpada pela situação atual, diz a ONU

O número de casos de sarampo triplicou em todo o mundo nos primeiros três meses de 2019, em comparação com o mesmo período do ano passado, avançou a Organização Mundial de Saúde (OMS) esta segunda-feira.

Segundo a agência das Nações Unidas, os dados provisórios indicam uma “tendência clara” nesse sentido, com o continente africano a testemunhar o aumento mais dramático, de 700%.

A Ucrânia, Madagáscar e a Índia são os países mais afetados pela doença, com dezenas de milhares de casos registados por um milhão de pessoas. Só em Madagáscar, pelo menos 800 pessoas morreram de sarampo desde setembro do ano passado.

O Brasil, o Paquistão e o Iémen também têm sido atingidos por surtos, que “provocaram muitas mortes, principalmente entre crianças pequenas”. Países com altos níveis de cobertura de vacinação, como os EUA ou a Tailândia, registaram igualmente um pico no número de casos.

NÚMEROS REAIS PODEM SER MUITO MAIORES

A OMS previne que os números reais poderão ser muito maiores, já que apenas um em cada dez casos no mundo são registados.

A agência da ONU recorda que a doença é “totalmente evitável” com as vacinas certas, referindo, no entanto, que a cobertura global da primeira fase de imunização “estagnou” nos 85%, “ainda aquém dos 95% necessários para evitar surtos”.

Num artigo escrito para a CNN, a diretora executiva da UNICEF, Henrietta H. Fore, e o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciaram que o mundo atravessa “uma crise de sarampo” e que “a proliferação de informações confusas e contraditórias” sobre as vacinas é em parte culpada pela situação atual.

FALTA DE ACESSO VS DESINFORMAÇÃO SOBRE VACINA

Em fevereiro, a OMS já tinha alertado que os esforços para deter a propagação do sarampo estavam a “retroceder”. Os números de casos detetados em todo o mundo cresceram cerca de 50% no ano passado, revelava então a agência de saúde da ONU.

Nos países mais pobres, nas comunidades marginalizadas e nos Estados em conflito, o problema é a falta de acesso à vacina. Já na Europa e noutras zonas mais ricas do globo, os especialistas responsabilizam a complacência e a desinformação sobre a vacina.

A OMS refere que o ressurgimento da doença nalguns países está associado a considerações medicamente infundadas que associam a vacina contra o sarampo ao autismo. Estas informações sem fundamento científico têm sido disseminadas em grande parte nas redes sociais por membros do movimento “antivacinas”, previne a organização.

O sarampo é uma doença viral altamente contagiosa que pode provocar diarreia severa, pneumonia e perda de visão e que, nalguns casos, pode ser fatal.

Hélder Gomes

In “Expresso”