Pessoas com a doença não controlada custam mais do dobro do que pacientes com a asma estabilizada.

Se todas as crianças e adultos que sofrem de asma tivessem a doença controlada conseguiríamos poupar cerca de 184 milhões de euros por ano em Portugal, indicam dois estudos realizados por investigadores do Cintesis — Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.

 

“Há muito dinheiro que se perde em Portugal por não controlarmos a asma”, sublinha o orientador dos trabalhos científicos, João Fonseca. O médico, que também é vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, calculou com outros investigadores do Cintesis os custos directos e indirectos da asma não controlada para concluir que, só com as crianças e jovens até aos 17 anos, seria possível poupar 30 milhões de euros por ano. O Cintesis está sediado na Universidade do Porto mas conta com a colaboração das universidades Nova de Lisboa, Aveiro, Algarve e Madeira.

 

Só 30% das crianças com asma chegam à adolescência sem sintomas da doença

 

O objectivo central dos investigadores foi avaliar o impacto económico da patologia para chamar a atenção dos decisores políticos e das instituições do Serviço Nacional de Saúde para a importância do controlo (evitando crises de agudização) desta doença inflamatória crónica das vias aéreas. Uma doença que se caracteriza por episódios recorrentes de pieira, falta de ar, tosse, aperto no peito e cansaço e que hoje é muito desvalorizada, devido à preponderância das formas ligeiras, apesar de haver casos graves.

 

 “Não há nenhum país que consiga ter toda a sua  população com a asma controlada”, admite João Fonseca, que defende, porém, que não seria difícil reduzir para metade o número de pessoas nesta situação porque “a asma é controlável a partir sobretudo da idade escolar”. Mas em Portugal ainda persiste “a cultura de que as pessoas têm que aguentar”, lamenta.

 

No hospital, pelo menos uma vez na vida

 

Intitulado “Cost of asthma in children: a nationwide, population-based, cost-ofillness study”, o primeiro estudo (que foi publicado em Novembro no Pediatriac Allergy Immunology) conclui que, considerando apenas as crianças e adolescentes, a asma custará mais de 161 milhões de euros por ano.

 

Cuidados de saúde primários não estão a evitar internamentos por asma

 

Em média, cada criança afectada representa uma despesa de 929,35 euros por ano, dos quais 75% são custos directos. Para se ter uma ideia da diferença, os investigadores compararam os gastos de uma criança com asma controlada (747,63 euros por ano, em média) com a despesa média de uma criança com a doença não controlada (1758,44 euros). São mais mil euros por ano.

 

O problema é que uma em cada três crianças com asma continua a ser hospitalizada pelo menos uma vez na vida, quando seria possível evitar a maior parte destes internamentos e das recorrentes idas aos serviços de urgência, explica João Fonseca.

 

Muitos doentes deixam terapêutica

 

Quanto ao controlo da asma nos adultos, esse permitiria obter uma poupança superior a 154 milhões de euros por ano, segundo dados de outro estudo. Intitulado “Cost of asthma in Portuguese adults: A population-based, cost-of-illness study” e publicado na Revista Portuguesa de Pneumologia em Agosto passado, este foi o primeiro trabalho a calcular o impacto económico da asma no adulto em Portugal.

 

14% dos casos de asma na infância devem-se a poluição rodoviária

 

As estimativas indicam que os adultos com asma custam cerca de 386 milhões de euros, representando cada doente uma despesa de 708,16 euros em média por ano, dos quais 93% são custos directos em saúde (consultas, idas à urgência, internamentos, testes de diagnóstico e medicação de alívio).

 

Feitas as contas, somando os dados dos adultos aos das crianças e jovens, a asma representa actualmente 3% da despesa total em saúde (547 milhões de euros), enfatizam os investigadores que quiseram agora apresentar os resultados em conjunto para dar uma ideia da real dimensão do problema. “É uma brutalidade”, observa João Fonseca.

 

 “Os doentes não controlados gastam mais do dobro do que os doentes controlados ”, sintetiza o médico que nota que este problema está longe de estar resolvido em Portugal, onde se estima que 45% das pessoas com asma asma estejam nesta situação.

 

700 mil pessoas com asma activa

 

Mas o que é isso de ter a asma controlada? É, exemplifica, não apresentar sintomas quer de dia quer de noite, não ter limitações nas actividades do dia-a-dia e durante o sono, é não acordar de noite.

 

O problema é que, num país em que se estima que perto de 700 mil pessoas tenham asma activa (sintomas no último ano), segundo os últimos dados disponíveis, como esta é uma doença flutuante, muitos doentes, quando se sentem melhor, deixam de fazer a terapêutica.

 

Baseadas nos dados do inquérito nacional sobre asma e outros estudos, além de inquéritos a pequenas amostras de doentes (208 nas crianças e 309 nos adultos), os trabalhos apresentam limitações e as estimativas podem estar subestimadas, devido sobretudo à dificuldade em calcular os custos indirectos nos adultos, que incluem os custos com transportes, o absentismo laboral e a perda de produtividade, frisam os investigadores.

 

ALEXANDRA CAMPOS 

 

In “Público”