A diabetes já é encarada pela comunidade científica como uma verdadeira pandemia. Atualmente, existem 733 milhões de diabéticos em todo o mundo e estima-se que subirá para os 1.120 milhões em 2040. Médicos alertam e apostam na prevenção: melhor alimentação e mais exercício.

 

A diabetes já é encarada pela comunidade científica como uma verdadeira pandemia. Atualmente, existem 733 milhões de diabéticos em todo o mundo e estima-se que subirá para os 1.120 milhões em 2040. Médicos alertam e apostam na prevenção: melhor alimentação e mais exercício.

 

A diabetes tipo 1 nas crianças e nos jovens em Portugal atingia, em 2014,cerca de 3.365 indivíduos com idades entre os 0 e os 19 anos de idade, correspondendo a 0,16% da população portuguesa.

 

É um dos tipos de diabetes mais severo porque há risco devida se não forem administradas diariamente as doses de insulina para manterem a glicose no sangue em valores normais.

 

Se o doente conseguir manter a doença “controlada” e seguiras recomendações do seu médico, poderá levar uma vida mais do que normal, ativa e saudável como acontece com a jovem madeirense, Juliana Aguiar, diabética desde tenra idade.

 

Diagnosticada com diabetes tipo 1 desde os três anos deidade, Juliana tem atualmente 25 anos e conta-nos como aprendeu a crescer com uma doença rodeada de mitos e que, de certa forma, acabou por roubar-lhe a infância, a altura das brincadeiras e do viver sem responsabilidades.

 

Aos 4 anos, Juliana já se injetava com insulina e aprendeu, desde muito nova, a escolher os alimentos corretos, a saber dizer “não” a guloseimas, «por mais que isso fosse difícil», e ater consciência da gravidade do seu problema de saúde.

 

«Cresci muito depressa», desabafa, salientando que, por conta da sua doença, ainda na pré-escola já sabia do que podia ou não comer por causa da diabetes. «Era incrível como eu, tão nova, já sabia distinguir o que me fazia bem ou mal», destaca sorrindo.

 

Na carteira desta jovem, estudante  no último ano do curso de Psicologia na Universidade da Madeira, está sempre o estojo com o aparelho que controla a glicémia e as canetas de insulina que são habitualmente três. Por dia, Juliana injeta entre 30 a 40 doses de insulina no corpo.

 

«Se é difícil e complicado? É. Se é preciso muito autocontrole? Sim, sem dúvida. E, é possível viver-se com qualidade? Sim, é possível, desde que sejam alterados determinados hábitos que fazem parte da nossa rotina», explica a jovem, realçando que, quando a diabetes surge na infância há uma altura na vida em que o processo de aceitação da doença passa por alguma “turbulência”.

 

Juliana Aguiar refere-se especificamente à adolescência, a fase de maiores transformações corporais e emocionais da vida de uma pessoa e em que tudo é posto à prova.

 

Para ela o processo não foi «fácil» porque, à diabetes, juntaram-se a anorexia e a bulimia.

 

«Quando entrei na adolescência, o facto de ter de comer a horas, de fazer tudo certinho, o não poder comer determinados alimentos, fez com que eu me preocupasse muito com o peso», conta, referindo que, aos 14 anos chegou a pesar apenas 38 quilose tinha os diabetes completamente descontrolados.

 

Mas isso foi apenas uma fase “menos boa” que passou e que até acha ter ultrapassado «depressa» porque, «afinal, a vida tem de ser encarada com optimismo» e também porque, pelo caminho, tem encontrado outros jovens que partilham consigo mesmo problema e que, de certa forma. ajudou-a a ultrapassar «muitas dificuldades»,

 

 Mesmo assim, Juliana admite que a diabetes «exige muita força de vontade» e que «há dias em que apetece baixar os braços».

 

«Contudo, uma coisa que tempos de pensar é que, se não podemos mudar as circunstâncias, muda-se a nossa atitude perante as mesmas. Eu sei que isto é uma luta diária mas aquilo que tento fazer é gerir o problema da melhor forma», garante.

 

DIABETES TIPO 1: A MAIS TEMIDA

 

De acordo com o Relatório Anual do Observatório da Diabetes relativo a 2015, em 2014 foram deteta dos 17,5 novos casos de diabetes tipo 1 por cada 100mil jovens com idades compreendidas entre os 0-14 anos.

 

O diabetes tipo 1 surge normalmente na infância/juventude e acontece quando a produção de insulina do pâncreas é insuficiente, isto é, quando este perde a capacidade de produzir insulina em decorrência de um defeito do sistema imunológico, fazendo com que os anticorpos do organismo ataquem as células que produzem essa hormona.

 

Por norma, os primeiros sintomas surgem quando a criança está constantemente com vontade de urinar, bebe imensa água e tem uma perda considerável de peso apesar do muito apetite em relação à comida.

 

Como a diabetes não é contagiosa, o que acontece, em especial no tipo 1, é que há uma propensão genética para se ter a doença apesar de esta não ser “regra”. As verdadeiras causas do aparecimento desta doença na infância são ainda desconhecidas como nos irá explicar, mais adiante nesta reportagem, o endocrinologista madeirense, Silvestre Abreu.

 

Já a diabetes tipo 2, que surge habitualmente na idade adulta (com grande incidência nos idosos), não necessita de insulina, é uma consequência de maus hábitos, como o sedentarismo e a obesidade, que também podem ser adotados pela família inteira- explicando porque pessoas próximas tendem a ter a doença conjuntamente.

 

Por isso, os médicos alertam para a importância da atividade física no tratamento da diabetes para manter os níveis de açúcar no sangue controlados e afastar os riscos de ganho de peso.

 

Contudo, há que referir que existe restrição nos casos em que há hipoglicémia, principalmente nos pacientes com diabetes tipo 1. As pessoas com a glicemia muito baixa não devem iniciar atividade física, sob o risco de baixar ainda mais os níveis.

 

Por outro lado, caso a diabetes esteja descontrolada, com glicemia muito elevada, o exercício físico pode causar a libertação de hormonas contra-reguladoras que aumentam mais ainda a glicemia.

 

É por esta razão que os especialistas lembram que os pacientes com diabetes devem sempre conversar com seus médicos sobre as melhores opções para o seu caso.

 

Um dado que aqui deve ser ainda descrito é o facto de existirem ainda mais dois tipos de diabetes: a gestacional (que surge durante a gravidez e que pode, ou não, desaparecer depois do parto) e outros tipos de diabetes (que ocorrem com muito menos frequência e que, em alguns casos, surgem devido a mutações genéticas).

 

TAXA DE MORTALIDADE ELEVADA

 

Portugal tem uma das taxas mais elevadas de diabetes da União Europeia e a mortalidade provocada pela doença é quase o dobro da média europeia.

 

Mesmo assim, um dado positivo é que esta tem vindo a diminuir nos últimos anos.

 

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em Portugal, em 2014, registaram-se menos 6% de mortes causadas por diabetes face a 2013 e o relatório do Observatório Nacional da Diabetes mostra que na última década tem-se verificado uma diminuição significativa do número de anos potenciais de vida perdida por Diabetes Mellitu sem Portugal (-37%).

 

Diabetes pode e deve ser prevenida

 

Médico alerta para a importância do rastreio

 

Silvestre Abreu diz que deve haver uma especial atenção para a doença que atinge cerca de 13% da população madeirense (entre os 20 e os 79 anos) e 733 milhões de pessoas em todo mundo.

 

Na Madeira, a diabetes atinge 13% da população entre os 20 e os 79 anos de idade. Uma vez “instalada” no organismo a diabetes não tem cura. Contudo, é uma doença que «pode e deve ser prevenida» como explicou ao nosso jornal o médico e diretor do Serviço de Endocrinologia do SESARAM, Silvestre Abreu.

 

«Na diabetes a prevenção é fundamental e faz-se com medidas extremamente simples mas difíceis na prática de se implementar e que passam por uma alimentação saudável e a promoção da atividade física de modo a diminuir a obesidade», começa por explicar o especialista que, na questão do excesso de peso deixa o seguinte alerta: «a obesidade é a grande responsável pela maioria das diabetes diagnosticadas».

 

Desmistificando a ideia de que a diabetes “apanha-se” devido ao consumo excessivo de açúcar, Silvestre Abreu explica que o que leva à diabetes é o “peso a mais” e não o açúcar “em si”.

 

«Por exemplo, nas crianças em que surge a diabetes tipo 1,obviamente, que que não foi o açúcar que levou à doença», esclarece o médico, salientando que, no caso da diabetes na infância, a causa continua desconhecida. «Sabe-se que é uma doença de etiologia auto imune que leva a uma destruição da célula que produz insulina e que é a célula beta do pâncreas», acrescenta.

 

Nos idosos a diabetes é muito comum a parir dos 60 anos deidade e a sua prevalência ultrapassa os 27%. O tipo mais frequente é o 2 que, facilmente passará para o tipo 1 se a doença não for controlada (sobretudo através da alimentação).

 

A PANDEMIA DO SÉCULO XXI

 

Silvestre Abreu recorda que a diabetes é considerada a «pandemia do século XXI». A doença atinge 733 milhões de pessoas em todo o mundo, havendo uma estimativa que aponta para 1.120 milhões de diabéticos em 2040.

 

De acordo com este endocrinologista, em 2015 morreram em todo o mundo 5 milhões de pessoas vítimas da diabetes e Portugal é um dos países com maior prevalência da doença. Este ano, a Federação Internacional da Diabetes e a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) — que são os dois grandes promotores do Dia Mundial da Diabetes (assinalado no passado dia 14 de novembro) — chamaram à atenção para a importância do rastreio sistemático da visão das pessoas com diabetes.

 

«A diabetes é a principal causa de cegueira e muitas vezes esta cegueira não tem qualquer sintomatologia anterior. Por isso é fundamental que as pessoas com diabetes façam o rastreio à visão porque há tratamento», alerta o médico, lembrando que a Região tem, desde 2007, o Programa Sistemático de Rastreio de Retinopatia Diabética. Diabetes

 

«Este programa tem permitido evitar muitos casos de cegueira porque as pessoas são diagnosticadas a tempo, com resposta direta do Serviço de Oftalmologia do SESARAM», destaca Silvestre Abreu.

 

Fonte:Jornal da Madeira